16/01/2020
Ano 23 - Número 1.157
ARQUIVO BRAZ CHEDIAK
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Braz Chediak
VOOS DE INVERNO |
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Dizem que, à medida em que
envelhecem, os homens se tornam mais sábios. Grande mentira, inventada
para nos consolar. À medida em que envelhecemos nos tornamos mais tolos.
Dou um exemplo: na adolescência era comum recebermos das namoradas uma
pétala de flor que guardávamos em nossos livros, junto com as cartas de
amor, e os trancávamos a 7 chaves em respeito aos sentimentos, recíprocos
ou não. Cavalheiros, quando terminávamos o namoro devolvíamos tudo:
cartas e pétalas. Com a idade não recebemos nem cartas nem flores,
pois as mulheres, instintos aguçados, perceberam que o face book
substituiu as primeiras e podemos ter alergia ao pólen.
Desde
criança sempre tive paixão pelos animais, especialmente pelos passarinhos,
e me maravilhei no dia em que meu pai levou para casa um LP chamado CANTO
DAS AVES DO BRASIL, de Johan Dalgas Frisch. Hoje curto, no computador,
as belas AVES DO CERRADO, fotografadas por nosso Edgard Thomas, que
homenageia, com sua Arte, essas belezas. E como beleza atrai beleza,
fico imaginando se, em algum lugar do mundo, algum fotógrafo se dedica em
fotografar as mulheres - como seres humanos, não manequins -, que a cada
dia estão mais belas. Penso: será que este fotógrafo registra a curva
de uns ombros... os traços de uns lábios, os cabelos que, observo, se
tornaram um ritual quando essas criaturas tão imprevisíveis (ah, as
mulheres!) querem seduzir? Basta um balanceio, um chacoalhar de cabeça, e
esses cabelos se transformam em laços, armadilhas ou... agradáveis imãs.
Registram o caminhar? Existem mulheres que, quando caminham, balançam
seus corpos como árvores novas, outras que correm livres e sinuosas como
as gazelas, outras que voam!
“Ora, Braz, mulheres que voam?”,
indagarão os implicantes. Tenho piedade deles, pois qual o homem que,
apaixonado, não viu sua companheira voar entre lençóis ou, simplesmente,
entre as nuvens que, neste início de verão cobrem o céu? Volto às
fotos e penso: nenhuma fotografia de mulher estará completa se não vier
acompanhada de uma gravação dos sons que elas emitem quando estão felizes
e, principalmente, quando amam. De algumas, basta o farfalhar de saias,
de outras o som de um sorriso, que só os iniciados ouvem, ou o ronronar
baixinho quando corpos se encontram...
Mas estou me alongando,
talvez por estar sonhando, talvez por ser 3 da manhã, talvez porque estou
sozinho. Volto ao primeiro parágrafo e afirmo: os homens, à medida que
envelhecem, se tornam tolos. Tão tolos que ficam escrevendo crônicas ao
invés de sair por aí, apreciando os pássaros e as mulheres, mesmo que
pássaros e mulheres voem quando nos aproximamos, porque sabem que seus
voos nos encantam. E é de encantamentos que é feita a vida!
Braz Chediak,
cineasta e escritor
Três Corações, MG
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