16/08/2019
Ano 22 - Número 1.137
ARQUIVO BRAZ CHEDIAK
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Braz Chediak
AZUL DE RUBEM BRAGA |
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Amanhece. A cama desarrumada parece o que minha mãe chamava de “ninho
de guacho”, ou “ninho de rato”. Mas é minha cama, onde discuto com Deus,
onde leio, onde sonho...
Presto atenção nos sons, vou até a varanda
e coloco ração para a gatinha de rua que vinha me visitar todos os dias.
Vinha. Agora ela sumiu, creio que foi envenenada. Troco a ração, a
água, mesmo sabendo que ela não voltará.
Na minha infância havia um
homem que foi abandonado pela mulher. Todos os dias ia à rodoviária
esperar seu retorno.
Ela nunca voltou.
Mallarmé escreveu:
“Todo homem traz um segredo consigo, muitos morrem sem o ter encontrado, e
não o encontrarão porque, mortos, tal segredo não existe mais, nem eles.
Morri e ressuscitei com a chave de pedrarias de meu último porta-joias
espiritual. Cabe-me agora abri-lo longe de qualquer impressão emprestada e
seu mistério se emanará num céu extremamente belo”.
Será que algum
dia descobrirei meu segredo? Talvez, como Mallarmé, precisarei morrer e
ressuscitar?
"Já morri tanto, por conta do meu futuro morrer, que a
morte me desaponta. Já me subtrai ao ser."
Sim, mas estou vivo e
observo: os passarinhos estão alegres, em cantorias, as árvores, com
as folhas molhadas pelo orvalho, estão brilhando. O céu está de um azul
tão bonito que crio a expressão: “azul de Rubem Braga”.
É apenas
uma expressão, uma homenagem. É bom homenagear a quem amamos quando
amanhece!
* Os versos entre aspas são de Cassiano Ricardo.
Braz Chediak,
cineasta e escritor
Três Corações, MG
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