07/05/2011
Ano 14 - Número 734


ARQUIVO
BRAZ CHEDIAK

 

 

Braz Chediak



O ALEGRE POVO BRASILEIRO


 

Chico Buarque, em sua música MEU CARO AMIGO, disse que “... Aqui na terra/tão jogando futebol/Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll/Uns dias chove,/noutros dias bate sol/Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta/Muita mutreta pra levar a situação/Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça/E a gente vai tomando e também sem a cachaça/Ninguém segura esse rojão...”

Foi a maneira descontraída do poeta fazer seu protesto contra a situação absurda em que se encontrava o país, onde a corrupção e incompetência corriam soltas.

Aliás, o humor sempre foi uma forma de expressão contra os tiranos, os corruptos e, até mesmo, contra a mediocridade. E, para o brasileiro, humor é que não falta.

Ainda agora leio a notícia, que me foi enviada pelo escritor Flávio Moreira da Costa, sobre um terremoto em Rio Verdinho, e que adapto a meu modo para que não seja muito grande, já que tanto o tempo anda curto e precisamos correr muito para ganhar o pão nosso de cada dia.

A notícia é a seguinte:

“Depois dos terremotos ocorridos no Japão, o Governo Brasileiro resolveu instalar um sistema de medição e controle de abalos sísmicos que cobre todo o país.

“O então recém-criado Centro Sísmico Nacional, poucos dias após entrar em funcionamento, detectou que haveria um grande terremoto no Sul de Minas e, imediatamente, enviou um telegrama à Delegacia de Polícia de Rio Verdinho.

Dizia a mensagem: URGENTE. Possível movimento sísmico na zona. Muito perigoso: RICHTER, 7.5 EPICENTRO: A 3 Km da cidade. Tomem medidas urgentes e informem resultados.”

Uma semana depois, o Centro Sísmico recebeu a resposta que dizia:

“Aqui é da Polícia de Rioverdinho. Movimento Sísmico totalmente desarticulado.
RICHTER tentou se evadir, mas o abatemos a tiros.
DESATIVAMOS A ZONA e todas as putas estão presas.
EPICENTRO, Epifânio, Epicleiton e os outros cinco irmãos estão detidos.
Não respondemos antes porque houve aqui UM BAITA TERREMOTO”.

Mas não é só sobre o governo e autoridades que nosso povo faz piadas. O cidadão comum também é alvo delas, principalmente quando se quer ressaltar o caráter de alguém ou de alguma região. Nordestinos, gaúchos e mineiros são alvos fáceis. E por falar em mineiro, há alguns anos um conterraneo nosso foi para o Rio de Janeiro e arrumou emprego numa grande loja de departamentos onde tudo podia ser comprado.

O gerente, vendo a cara sonsa do mineiro, perguntou:
- Você já trabalhou alguma vez na vida?

- Já. Eu fazia negócios em Rio Verdinho.

O gerente gostou do jeito simples do rapaz e disse:
- Pode começar amanhã, e no final da tarde venho verificar como você se saiu.

O dia seguinte foi longo e árduo para nosso personagem. Às 17:30 o gerente se aproximou para verificar sua produtividade e perguntou:
- Quantas vendas você fez hoje?

- Uma!

- Só uma? A maioria dos vendedores faz 30 a 40 vendas por dia. De quanto foi a venda que você fez?

- Dois milhões e meio de reais!

- O quê? – perguntou o gerente, perplexo. – Como você conseguiu isso?

O mineirinho, coçando a cabeça, respondeu: - Bem, o cliente entrou na loja e eu lhe vendi um anzol pequeno, depois um anzol médio e finalmente um anzol bem grande. Daí eu lhe vendi uma linha fina de pescar, uma de resistência média e uma bem grossa, pra pescaria pesada. Eu lhe perguntei onde ele ia pescar e ele me disse que ia fazer pesca oceânica. Eu sugeri que talvez fosse precisar de um barco, então eu o acompanhei até seção de náutica e lhe vendi uma lancha importada, de primeira linha. Aí eu disse a ele que talvez um carro pequeno não fosse capaz de puxar a lancha, levei-o a seção de carros e lhe vendi uma caminhonete com tração nas quatro rodas.

O gerente levou um susto e perguntou: - Você vendeu tudo isso a um cliente que veio aqui pra comprar um pequeno anzol?

- Não senhor. Ele entrou aqui, na verdade, querendo um pacote de modess para a esposa. Aí eu falei: - Já que sua esposa tá “naqueles dias’ e o fim de semana do senhor tá perdido, que tal uma pescaria?”

Bom, já que “... a coisa aqui tá preta/Muita careta pra engolir a transação/E a gente tá engolindo cada sapo no caminho...”, é melhor rir um pouquinho senão a gente não segura este rojão.


(07 de maio/2011)
CooJornal no 734


Braz Chediak,
cineasta e escritor
Três Corações, MG
brazchediak@gmail.com 

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