19/03/2011
Ano 14 - Número 727
ARQUIVO
BRAZ CHEDIAK |
Braz Chediak
CANTANDO NO CHUVEIRO
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Li, há pouco, que cantar ajuda a reduzir o estresse. Seja num bar, num
karaokê, num coral ou – acreditem – até nas famosas festinhas em que, todo
mundo bêbado, resolve recordar as “músicas de antigamente”.
No mesmo artigo me explicam que o canto é, também, uma forma de exercício,
que: “Ao encher os pulmões de ar, aumenta-se o ritmo cardíaco e o fluxo de
sangue pelo corpo”, o que é benéfico à saúde.
Saúde de quem canta, porque a de quem ouve corre o sério risco de ser
abalada pelas vozes desafinadas ou por instrumentos que, cá pra nós, sofre
nas mãos amadoras de seus executantes.
Barbara Dinsdale, membro do grupo “Sing for your heart”, criado na
Inglaterra, diz que "Como atividade aeróbica, o canto melhora a saúde do
coração e está relacionado à longevidade, à redução do estresse e à saúde
em geral”.
É claro que ela não pensou nos vizinhos dos cantores de chuveiro que se
exercitam, mas massacram os ouvidos alheios.
Mas não vamos implicar: qualquer música, quando bem cantada ou executada,
é fundamental para a vida, para a felicidade humana.
Outro exercício bom para a saúde é o amor.
Como dizia Drummond, “O amor ataca raso e fere fundo”, mas tanto o ataque
quanto o ferimento faz parte desse momento maravilhoso pelo qual todos nós
passamos. E afirmo que “todos nós” porque não concebo um ser que tenha
passado pelo mundo e nunca sentido o chamado da pele. Mesmo o mais
enclausurado dos monges, na mais alta montanha do Tibete, deve ter
sentido, um dia, a brisa roçando o corpo de uma mulher e espalhando seu
cheiro, deve ter ouvido sua voz e estremecido. Estou certo que mesmo o
mais solitário dos homens tem, dentro de seu coração, uma mulher à qual
ama e que faz parte dele, mesmo estando distante.
É claro que o amor - como a música - é complexo, dentro de sua
simplicidade. É feito de momentos. Filósofos, teólogos, escritores, já
tentaram defini-lo e, para cada um, o amor é único, não tem dois iguais.
“Amor é fogo que arde sem se ver:/É ferida que dói e não se sente” nos
ensina Camões.
Tem razão o poeta. O amor é inexplicável, é o homem diante de si mesmo, a
plenitude do ser. E nada mais saudável que ser Pleno, viver em harmonia
com o cosmo, ser “musical”.
Antigamente, todo casal tinha “sua música”. Era um pacto secreto, doce,
carinhoso. Fazia parte do encontro, da fidelidade, pois “o homem que não
traz música dentro de si,/ou não se comove ao ouvir seus doces sons,/foi
talhado para as traições...” adverte Shakespeare.
Mas esta não é uma crônica filosófica – e nem me meto a filósofo. Minha
intenção é falar da saúde, que está se tornando um verdadeiro qüiproquó em
todo o mundo.
A meu ver, os homens andam tão preocupados com seus corpos que se esquecem
que a vida também é feita de saudáveis sentimentos e idéias. E aqui abro
um parêntese para contar a história de um amigo, grilado com doenças e que
tinha verdadeiro pavor de “erro médico”. Um dia ele teve que extrair um
pequeno quisto e quando o cirurgião, para higienizar suas mãos, pediu à
enfermeira um pouco de álcool ele arregalou os olhos e gemeu desesperado:
“Doutor, não dá pro senhor beber depois da operação?”
Este o grande mal: O medo. Um medo que às vezes vem da confusão que nos
transmitem as TVs, revistas, jornais, que dedicam tempo e espaço,
diariamente, para nos dizer que determinado alimento faz bem para isto,
que este outro faz bem para aquilo e, um mês depois, descobrem que ambos
fazem mal para as duas coisas. Isto nos amedronta tanto que, até para
comermos o humilde pãozinho nosso de cada dia, ficamos a medir
carboidratos, sódio, proteínas, etc., etc.
Mas voltemos ao primeiro parágrafo: cantar ajuda a reduzir o estresse e
nos dá alegria. Então, por que não amar e cantar ao mesmo tempo?
Cante, não importa para quem. Ria, mesmo sem saber de que. Ao invés de
implicar com a TV, faça como a fadinha de Peter Pan: aponte sua varinha
(controle remoto) de condão e faça desaparecer de sua frente o que não é
bom. Mas não perca, nunca, a consciência. A consciência da vida. A
consciência de que somos responsáveis por este planeta azul, onde a música
existe para nós, além de nós, apesar de nós, mas que cantada baixinho, a
dois, é melhor. Arrume uma namorada e saia por aí, dando vivas à poesia de
viver, pois “Meu poeta eu hoje estou contente/todo mundo de repente ficou
lindo, ficou lindo de morrer/Eu hoje estou me rindo, nem eu mesma sei de
que...”
E é preciso saber?
Carpe Diem.
(19 de março/2011)
CooJornal
no 727
Braz Chediak,
cineasta e escritor
Três Corações, MG
brazchediak@gmail.com
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