Braz Chediak
O CACHORRO E O
AÇOUGUEIRO
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Estava fechando o açougue quando o cachorro entrou e
olhou-o com insistência. Era um pequeno vira-latas amarelo, pelos curtos,
rabo balançante. O açougueiro o espantou mas o cãozinho continuou a
olhá-lo e não se moveu.
O homem pegou uma vassoura e bateu-a na porta de metal, procurando fazer o
máximo de barulho:
“Fora. Passa já!”, disse, mostrando a rua, numa tentativa de espantá-lo.
O cãozinho, talvez com medo de levar uma vassourada, deu um passo atrás,
suspendeu a cabeça e o açougueiro viu que ele trazia um bilhete na boca.
Deu a volta no balcão, pegou o bilhete e leu:
“Favor mandar pelo portador 12 salsichas e um filé mignon!”
No bilhete tinha, também, o nome do freguês.
O cãozinho abriu novamente a boca e o açougueiro viu, presa pela língua,
uma nota de R$ 50,00. Pegou-a, guardou-a na caixa registradora, foi à
geladeira retirou as salsichas, o filé, colocou-os em uma sacola plástica,
junto com o troco, e pôs na boca do cachorro que balançou a cauda como se
dissesse “obrigado”.
Impressionado com o fato, o açougueiro fechou o estabelecimento e, de
longe para não ser notado, seguiu o animal.
O cachorro desceu a Rua Direita, esperou o sinal de trânsito fechar, os
carros pararem, atravessou a linha, a Ponte da Rodoviária, seguiu pela
Subida do Herculano e, chegando à Rua da Cotia, parou em frente ao número
286.
Olhos brilhantes de alegria, deixou a bolsa no chão, subiu uma pequena
escada e bateu com a patinha na porta.
Ninguém atendeu. O cãozinho bateu novamente e, sentindo que ninguém
abriria, circundou a casa, pulou uma grade baixa, foi até à janela e bateu
no vidro várias vezes.
Depois disto, voltou à porta. Minutos depois apareceu um homem magro que
recolheu a sacola, pegou no interior da casa uma vara de marmelo comprida
e começou a bater no cachorro.
O açougueiro, atônito, correu até o Homem Magro e segurou-lhe o braço,
gritando:
“Pare. O que é que o senhor está fazendo? O seu cão é um gênio...”
O Homem Magro encarou-o, com desdém:
“Gênio uma pinóia! Esse cachorro é burro, esta é a segunda vez, nesta
semana, que o estúpido ESQUECE a chave da casa!
. . .
Recebi esta “mensagem” pelo e-mail e a reescrevi em forma de crônica ou
pequeno conto.
No e-mail ela vêm com uma MORAL DA HISTÓRIA que diz: “Você
pode continuar excedendo às expectativas, mas para os olhos de alguns você
estará sempre abaixo do esperado.”
Não sei se os leitores concordarão com ela. É provável que sim. De
qualquer forma fica aqui o registro. CARPE DIEM.
(24 de abril/2010)
CooJornal
no 681