24/04/2010
Ano 13 - Número 681


ARQUIVO
BRAZ CHEDIAK

 

 

Braz Chediak



O CACHORRO E O AÇOUGUEIRO

 

Estava fechando o açougue quando o cachorro entrou e olhou-o com insistência. Era um pequeno vira-latas amarelo, pelos curtos, rabo balançante. O açougueiro o espantou mas o cãozinho continuou a olhá-lo e não se moveu.

O homem pegou uma vassoura e bateu-a na porta de metal, procurando fazer o máximo de barulho:
“Fora. Passa já!”, disse, mostrando a rua, numa tentativa de espantá-lo.

O cãozinho, talvez com medo de levar uma vassourada, deu um passo atrás, suspendeu a cabeça e o açougueiro viu que ele trazia um bilhete na boca.

Deu a volta no balcão, pegou o bilhete e leu:
“Favor mandar pelo portador 12 salsichas e um filé mignon!”

No bilhete tinha, também, o nome do freguês.

O cãozinho abriu novamente a boca e o açougueiro viu, presa pela língua, uma nota de R$ 50,00. Pegou-a, guardou-a na caixa registradora, foi à geladeira retirou as salsichas, o filé, colocou-os em uma sacola plástica, junto com o troco, e pôs na boca do cachorro que balançou a cauda como se dissesse “obrigado”.

Impressionado com o fato, o açougueiro fechou o estabelecimento e, de longe para não ser notado, seguiu o animal.

O cachorro desceu a Rua Direita, esperou o sinal de trânsito fechar, os carros pararem, atravessou a linha, a Ponte da Rodoviária, seguiu pela Subida do Herculano e, chegando à Rua da Cotia, parou em frente ao número 286.

Olhos brilhantes de alegria, deixou a bolsa no chão, subiu uma pequena escada e bateu com a patinha na porta.

Ninguém atendeu. O cãozinho bateu novamente e, sentindo que ninguém abriria, circundou a casa, pulou uma grade baixa, foi até à janela e bateu no vidro várias vezes.

Depois disto, voltou à porta. Minutos depois apareceu um homem magro que recolheu a sacola, pegou no interior da casa uma vara de marmelo comprida e começou a bater no cachorro.

O açougueiro, atônito, correu até o Homem Magro e segurou-lhe o braço, gritando:
“Pare. O que é que o senhor está fazendo? O seu cão é um gênio...”

O Homem Magro encarou-o, com desdém:
“Gênio uma pinóia! Esse cachorro é burro, esta é a segunda vez, nesta semana, que o estúpido ESQUECE a chave da casa!

. . .
 
Recebi esta “mensagem” pelo e-mail e a reescrevi em forma de crônica ou pequeno conto.
No e-mail ela vêm com uma MORAL DA HISTÓRIA que diz: “Você pode continuar excedendo às expectativas, mas para os olhos de alguns você estará sempre abaixo do esperado.”
Não sei se os leitores concordarão com ela. É provável que sim. De qualquer forma fica aqui o registro. CARPE DIEM.



(24 de abril/2010)
CooJornal no 681


Braz Chediak,
cineasta e escritor
Três Corações, MG
brazchediak@gmail.com 

Direitos Reservados