14/06/2008
Ano 11 - Número 585


ARQUIVO
BRAZ CHEDIAK

 

 

Braz Chediak



ESSE BICHO DA TERRA, TÃO PEQUENO

 

No dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, vendo na TV a destruição pela qual passa a floresta amazônica, pensei no poema de John Donne, especialmente no pedaço que serviu de epígrafe para Hemingway em POR QUEM OS SINOS DOBRAM: “Nenhum homem é uma ilha isolada. Cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra. Se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio. A morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram: eles dobram por ti” e, como um pensamento leva a outro, me indaguei quantos sinos dobram, a cada segundo, pelas árvores que caem nessa floresta que é o pulmão da humanidade e fonte de cobiça de “homens” e países.

Mas o que tem a ver a derrubada da floresta com a morte de um ser humano?, indagarão alguns. Tem. As árvores, como os animais, têm o mesmo DNA que nós, fazem parte de nós, e exterminá-las é decretar nosso fim.

Elas, como nós, nascem desse pequenino corpo que é a Terra, nossa primeira mãe, e por isto São Francisco de Assis, que estava milênios à frente de seu tempo, as saudava como “minhas irmãzinhas”, da mesma maneira que saudava ao sol e à lua, às águas e às pedras, às aves, às feras, aos homens. O Santo Poeta sabia que tudo está ligado, tudo faz parte do Grande OM, e um tronco derrubado, uma floresta queimada, é um membro decepado do corpo cósmico, uma ferida aberta na alma do universo.

Outro exemplo catastrófico é a Mata Atlântica. Todos os dias vemos e ouvimos, na grande imprensa, que ela possui uma das maiores biodiversidades do Planeta e, no entanto, também a destruímos.

E aqui abro um parêntese para louvar à Total Alimentos, empresa genuinamente brasileira, que está plantando, em Três Corações, 10 alqueires desta mata, isto é, curando feridas por outros provocadas, semeando a vida onde outrora havia apenas áreas degradadas. Bendito aquele que semeia e que seu exemplo seja seguido. Que esta exceção se transforme em regra e outras mãos generosas também lavrem a terra e lancem nela esta semente.

Fecho o parêntese e, perplexo, penso que a velocidade com que a floresta amazônica está sendo destruída é igual e inversamente proporcional à velocidade em que nosso corpo físico se transforma, para a saúde ou para a doença.

Em seu livro sobre a Medicina Quântica, Dr. Deepak Chopra diz que “Se pudesse ver seu corpo como realmente é, nunca o veria repetir-se. Noventa por cento dos átomos de nosso corpo não estavam nele há três meses. De certa forma, a configuração das células ósseas permanece a mesma, no entanto átomos de todos os tipos atravessam livremente as paredes celulares, o que significa que adquirimos um novo esqueleto a cada três meses”. Este é um milagre que nós, leigos, não percebemos, mas que, no momento em que o descobrimos, nos leva a alegria de saber que “somos movimento”, que nosso corpo segue o mesmo ritmo de todos os corpos do universo.  Mas até quando interromperemos este ritmo?

No livro de Chopra, li um poema de Sir James Jeans em que ele diz:

“Na realidade mais profunda,
Além do espaço e do tempo,
Talvez sejamos, todos,
Membros de um só corpo.”

Na época, o poeta me levou à meditação. Hoje, tenho convicção, ele tiraria o “talvez” do terceiro verso. Da mesma maneira que John Donne e São Francisco de Assis, ele diria que Somos parte do mesmo corpo, o Grande Corpo que caminha sem pressa em sem pausa e no qual nós assistimos ao espetáculo da vida, isto é, da transformação. Não vamos deter esta transformação. Vamos carregar em nossas mentes, em nossas almas, a lembrança de que destruir a floresta é interromper o movimento natural, cósmico, vivo. É destruir “esse bicho da Terra, tão pequeno” que somos nós, os Homens. 



 
(14 de junho/2008)
CooJornal no 585


Braz Chediak,
cineasta e escritor
Três Corações, MG
brazchediak@gmail.com