No dia 5 de
junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, vendo na TV a destruição pela qual
passa a floresta amazônica, pensei no poema de John Donne, especialmente
no pedaço que serviu de epígrafe para Hemingway em POR QUEM OS SINOS
DOBRAM: “Nenhum homem é uma ilha isolada. Cada homem é uma
partícula do continente, uma parte da terra. Se um torrão é arrastado
para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como
se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio. A morte de qualquer
homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não
perguntes por quem os sinos dobram: eles dobram por ti” e, como
um pensamento leva a outro, me indaguei quantos sinos dobram, a cada
segundo, pelas árvores que caem nessa floresta que é o pulmão da
humanidade e fonte de cobiça de “homens” e países.
Mas o que
tem a ver a derrubada da floresta com a morte de um ser humano?,
indagarão alguns. Tem. As árvores, como os animais, têm o mesmo DNA que
nós, fazem parte de nós, e exterminá-las é decretar nosso fim.
Elas, como
nós, nascem desse pequenino corpo que é a Terra, nossa primeira mãe, e
por isto São Francisco de Assis, que estava milênios à frente de seu
tempo, as saudava como “minhas irmãzinhas”, da mesma maneira que saudava
ao sol e à lua, às águas e às pedras, às aves, às feras, aos homens. O
Santo Poeta sabia que tudo está ligado, tudo faz parte do Grande OM, e
um tronco derrubado, uma floresta queimada, é um membro decepado do
corpo cósmico, uma ferida aberta na alma do universo.
Outro
exemplo catastrófico é a Mata Atlântica. Todos os dias vemos e ouvimos,
na grande imprensa, que ela possui uma das maiores biodiversidades do
Planeta e, no entanto, também a destruímos.
E aqui abro
um parêntese para louvar à Total Alimentos, empresa genuinamente
brasileira, que está plantando, em Três Corações, 10 alqueires desta
mata, isto é, curando feridas por outros provocadas, semeando a vida
onde outrora havia apenas áreas degradadas. Bendito aquele que semeia e
que seu exemplo seja seguido. Que esta exceção se transforme em regra e
outras mãos generosas também lavrem a terra e lancem nela esta semente.
Fecho o
parêntese e, perplexo, penso que a velocidade com que a floresta
amazônica está sendo destruída é igual e inversamente proporcional à
velocidade em que nosso corpo físico se transforma, para a saúde ou para
a doença.
Em seu
livro sobre a Medicina Quântica, Dr. Deepak Chopra diz que “Se pudesse
ver seu corpo como realmente é, nunca o veria repetir-se. Noventa por
cento dos átomos de nosso corpo não estavam nele há três meses. De certa
forma, a configuração das células ósseas permanece a mesma, no entanto
átomos de todos os tipos atravessam livremente as paredes celulares, o
que significa que adquirimos um novo esqueleto a cada três meses”. Este
é um milagre que nós, leigos, não percebemos, mas que, no momento em que
o descobrimos, nos leva a alegria de saber que “somos movimento”, que
nosso corpo segue o mesmo ritmo de todos os corpos do universo. Mas até
quando interromperemos este ritmo?
No livro de Chopra, li um poema de Sir James Jeans em que ele diz:
“Na
realidade mais profunda,
Além do
espaço e do tempo,
Talvez
sejamos, todos,
Membros
de um só corpo.”
Na época, o
poeta me levou à meditação. Hoje, tenho convicção, ele tiraria o
“talvez” do terceiro verso. Da mesma maneira que John Donne e São
Francisco de Assis, ele diria que Somos parte do mesmo corpo, o Grande
Corpo que caminha sem pressa em sem pausa e no qual nós assistimos ao
espetáculo da vida, isto é, da transformação. Não vamos deter esta
transformação. Vamos carregar em nossas mentes, em nossas almas, a
lembrança de que destruir a floresta é interromper o movimento natural,
cósmico, vivo. É destruir “esse bicho da Terra, tão pequeno” que somos
nós, os Homens.