11/08/2007
Ano 11 - Número 541


ARQUIVO
BRAZ CHEDIAK

 

 

Braz Chediak



TRÊS CAUSOS DE ARTISTAS

É comum “causos” envolvendo artistas, estes seres folclóricos que nos dão tanta alegria. Este, quem me contou foi o Marcos Calabresa, pedindo que não o contasse a ninguém: Vitor Cunha, violonista tricordiano e líder do conjunto “Velha Guarda”, tendo ido passar férias no Rio de Janeiro voltou meio “cariocado” e, muito metido, entrou no Bar Balalaika, o ponto chique da cidade, vestido de terno e fumando de piteira. Fez pose, tirou um lenço colorido do bolso, assou o nariz, queixou-se de um suposto resfriado e pediu ao Zé do Anor, filho do proprietário: - Me de uma cerveja. Mas escolhe uma frappé.

O Zé abriu a geladeira, procurou, procurou, e respondeu:
- Frappé acabou, Seu Vitor. Só tem Brahma e Antártica.

Em tempo: Zé do Anor - José Anor Amadeu - é o Chico Bento, o grande locutor que, durante anos, manteve, diariamente, o “Programa Chico Bento” na Rádio Clube Três Corações, um horário de músicas caipiras, notícias e, principalmente, transmissão de recados que, por não terem telefone, as pessoas mandam para amigos e familiares que estão nas roças ou viajando por lugarejos próximos.

Este outro foi contado por Gildson de Oliveira e ilustra de maneira agradabilíssima o temperamento de seu protagonista: Nosso querido Câmara Cascudo.

O lado boêmio de Cascudo às vezes incomodava dona Dahlia, sua esposa, que não perdia a oportunidade para lhe meter bronca, como revela a filha jornalista Anna Maria Cascudo Barreto. Ela tinha seis anos de idade quando assistiu a um pequeno desentendimento do casal... Lembra que ouviu a mãe e o pai brigando, ela falando alto, o que não era comum na convivência do casal.
"Mamãe nunca alterava a voz, mas um dia explodiu de raiva:"
- Luís, recebi um telefonema. Uma pessoa me contou que você estava na pensão de Maria Boa.

Segundo Anna, o pai, teatral e imediatamente, se ajoelhou no chão, juntou as mãos e disse:
- Que é isso Dahlia! A única mulher do mundo pra mim é você! Só amo você, nunca lhe fui infiel!

Dona Dahlia insistiu e perguntou:
- E como se explica você estar em casa de “mulheres de vida fácil”?
- Eu estava comendo um galeto, o melhor que se vende em Natal, e conversando com os amigos. Nem observei se tinha mulheres lá. E tinha?

A esposa achou a resposta o “cúmulo da irreverência e ironia”. A essa altura, pela fresta da porta, Anna Maria, que já sabia de alguns comentários “maldosos” de que o pai freqüentava bordéis e era boêmio, ficou escutando a briga e ouviu quando Cascudo para “provar” sua inocência daquela madrugada, ainda arriscou em sua defesa:
- Eu quero, se eu tiver sido infiel a você alguma vez, que esse teto caia sobre minha cabeça.

“Eu passei a noite todinha acordada, olhando para o telhado, com medo de que ele desabasse ali, como forma de castigo contra a mentira que eu estava ouvindo de papai...”

Já esta, é trecho de uma crônica de Mario Prata, e aconteceu com Ary Barroso (o compositor de Aquarela do Brasil e tantos outros sucessos geniais de nossa música), notório ranzinza e mal humorado, que também era locutor esportivo, quando descobriu que sua filha estava namorando seu repórter de campo: “Ary ficou indignado e proibiu a filha de ver o seu colega de trabalho. Aquilo era um absurdo.
A menina, já apaixonada pelo rapaz, ficou mal, muito mal. Foi chorar pitangas para a mãe, que é como se dizia naquele tempo.

A esposa intercedeu pela filha:
- Mas Ary, um moço tão bom, seu colega e tudo...

- Bom nada! Um boêmio, grunhiu Ary.

- Mas, Ary, você também é boêmio.

- Bebe como um gambá!

- Você também, Ary.

- Passa as madrugadas de bar em bar, cantando samba.

- Você também, Ary.

- É, mas acontece que eu não quero comer a minha filha!!!”

Grande Vitor Cunha, grande Câmara Cascudo, Grande Ary Barroso, grande Pratinha que com suas vidas e sua arte nos alegram nesse dia a dia cada vez mais necessitado de artistas. CARPE DIEM.



 
(11 de agosto/2007)
CooJornal no 541


Braz Chediak,
cineasta e escritor
Três Corações, MG
brazchediak@gmail.com