Braz Chediak
TRÊS CAUSOS DE ARTISTAS |
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É comum “causos” envolvendo artistas, estes
seres folclóricos que nos dão tanta alegria. Este, quem me contou foi o
Marcos Calabresa, pedindo que não o contasse a ninguém: Vitor Cunha,
violonista tricordiano e líder do conjunto “Velha Guarda”, tendo ido
passar férias no Rio de Janeiro voltou meio “cariocado” e, muito metido,
entrou no Bar Balalaika, o ponto chique da cidade, vestido de terno e
fumando de piteira. Fez pose, tirou um lenço colorido do bolso, assou o
nariz, queixou-se de um suposto resfriado e pediu ao Zé do Anor, filho do
proprietário: - Me de uma cerveja. Mas escolhe uma frappé.
O Zé abriu a geladeira, procurou, procurou, e respondeu:
- Frappé acabou, Seu Vitor. Só tem Brahma e Antártica.
Em tempo: Zé do Anor - José Anor Amadeu - é o Chico Bento, o grande
locutor que, durante anos, manteve, diariamente, o “Programa Chico Bento”
na Rádio Clube Três Corações, um horário de músicas caipiras, notícias e,
principalmente, transmissão de recados que, por não terem telefone, as
pessoas mandam para amigos e familiares que estão nas roças ou viajando
por lugarejos próximos.
Este outro foi contado por Gildson de Oliveira e ilustra de maneira
agradabilíssima o temperamento de seu protagonista: Nosso querido Câmara
Cascudo.
O lado boêmio de Cascudo às vezes incomodava dona Dahlia, sua esposa, que
não perdia a oportunidade para lhe meter bronca, como revela a filha
jornalista Anna Maria Cascudo Barreto. Ela tinha seis anos de idade quando
assistiu a um pequeno desentendimento do casal... Lembra que ouviu a mãe e
o pai brigando, ela falando alto, o que não era comum na convivência do
casal.
"Mamãe nunca alterava a voz, mas um dia explodiu de raiva:"
- Luís, recebi um telefonema. Uma pessoa me contou que você estava na
pensão de Maria Boa.
Segundo Anna, o pai, teatral e imediatamente, se ajoelhou no chão, juntou
as mãos e disse:
- Que é isso Dahlia! A única mulher do mundo pra mim é você! Só amo você,
nunca lhe fui infiel!
Dona Dahlia insistiu e perguntou:
- E como se explica você estar em casa de “mulheres de vida fácil”?
- Eu estava comendo um galeto, o melhor que se vende em Natal, e
conversando com os amigos. Nem observei se tinha mulheres lá. E tinha?
A esposa achou a resposta o “cúmulo da irreverência e ironia”. A essa
altura, pela fresta da porta, Anna Maria, que já sabia de alguns
comentários “maldosos” de que o pai freqüentava bordéis e era boêmio,
ficou escutando a briga e ouviu quando Cascudo para “provar” sua inocência
daquela madrugada, ainda arriscou em sua defesa:
- Eu quero, se eu tiver sido infiel a você alguma vez, que esse teto caia
sobre minha cabeça.
“Eu passei a noite todinha acordada, olhando para o telhado, com medo de
que ele desabasse ali, como forma de castigo contra a mentira que eu
estava ouvindo de papai...”
Já esta, é trecho de uma crônica de Mario Prata, e aconteceu com Ary
Barroso (o compositor de Aquarela do Brasil e tantos outros sucessos
geniais de nossa música), notório ranzinza e mal humorado, que também era
locutor esportivo, quando descobriu que sua filha estava namorando seu
repórter de campo: “Ary ficou indignado e proibiu a filha de ver o seu
colega de trabalho. Aquilo era um absurdo.
A menina, já apaixonada pelo rapaz, ficou mal, muito mal. Foi chorar
pitangas para a mãe, que é como se dizia naquele tempo.
A esposa intercedeu pela filha:
- Mas Ary, um moço tão bom, seu colega e tudo...
- Bom nada! Um boêmio, grunhiu Ary.
- Mas, Ary, você também é boêmio.
- Bebe como um gambá!
- Você também, Ary.
- Passa as madrugadas de bar em bar, cantando samba.
- Você também, Ary.
- É, mas acontece que eu não quero comer a minha filha!!!”
Grande Vitor Cunha, grande Câmara Cascudo, Grande Ary Barroso, grande
Pratinha que com suas vidas e sua arte nos alegram nesse dia a dia cada
vez mais necessitado de artistas. CARPE DIEM.
(11 de agosto/2007)
CooJornal
no 541