Braz Chediak
CRENÇAS E CRENDICES |
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No dia 28 de setembro de
1917, na edição vespertina de O ESTADO DE SÃO PAULO, chamada O
ESTADINHO, Monteiro Lobato lançou um artigo convidando os leitores a
colaborarem para o esclarecimento (ou histórias) da lenda do SACI.
O resultado surpreendeu o escritor que recebeu uma chuva de cartas de
todos os estados, principalmente de São Paulo e, em 1998 a FUNDAÇÃO BANCO
DO BRASIL e a ODEBRECHT lançaram o livro O SACY PERÊRÊ – Resultado de
um inquérito.
Mas por que o interesse
por esse querido ou temido personagem popular? Resposta: pelo mistério,
pelo que há de sobrenatural que sempre encanta o ser humano – haja visto o
sucesso do ET de Varginha e, em outro campo, do bruxinho Harry Potter.
Mas não é só o Saci, a
Mãe D’Água, o Lobisomem e a mula-sem-cabeça que despertam o interesse de
todos nós. As crendices, ou religiosidades, são numerosas e, dia a dia, as
encontramos em ditos populares, causos, contos, poesias, etc. e,
atualmente, até pela Internet, como é o caso das chamadas “CORRENTES”,
que pedem para você tirar 13 cópias de determinada carta e enviá-las a
pessoas diferentes para alcançar uma graça ou, se não o fizer, uma
desgraça. Claro que não acredito nesta bobagem mas, por via das dúvidas,
mando xerocar e a envio a outros infelizes.
Quem nunca acreditou nos
maus agouros, como passar diante de um gato preto, quebrar espelho, fazer
negócios na sexta-feira 13, comer carne na sexta-feira da paixão, etc.?
Quem não acredita nas superstições como ler a sorte num copo d’água, rezar
para São Longuinho ou amarrar o rabo do Saci para achar um objeto perdido,
ainda que o Saci não tenha rabo?
E como incomodamos os
santos ou as entidades, com nossos peditórios. Antigamente, como o
casamento era a realização máxima das mulheres, Santo Antonio era o mais
procurado mas, atualmente, como a situação está mais pra lá do que pra cá,
o casamento em baixa e o consumismo em alta, com o comércio vendendo em 36
prestações que começamos a pagar depois de 90 dias, quando muitos já
perdemos o emprego, ele está um pouco desprestigiado e deu lugar a Santa
Edwiges, a protetora dos endividados e Santo Expedido, o padroeiro das
causas perdidas.
Os brasileiros, somos na
maioria católicos mas fazemos uma fezinha no candomblé, na macumba, no
espiritismo e em muitas outras religiões. Ter fé nunca fez mal a ninguém.
O que faz mal é o fanatismo e a comercialização dos cultos - e como existe
comercialização! -, ainda que alguns mantenham tradições, têm histórias,
músicas, danças e rituais belíssimos, como a Procissão dos Navegantes ou a
lavagem da Igreja do Bonfim, por exemplo. E vejam que beleza estes
versinhos da crendice popular: “Caindo a colher/É visita de
mulher”. Bonitos mas não muito verdadeiros pois tenho deixado cair
muitas colheres ultimamente e o máximo que consigo é um “Bom dia,
vovô!”
Como somos ecléticos,
muitas vezes nossos cultos se misturam ou se unificam na devoção, como a
São Jorge e São Benedito. Este último meu santo protetor, já que meus pais
tinham o hábito de entregar cada filho, assim que nascia, à guarda de um
santo. Não sei por que o meu foi São Benedito, já que meu nome é Braz e
não nasci em seu dia, mas me sinto muito honrado, pois é um santo popular
e pelo visto um tremendo boa praça pois, salvo alguns amores desastrados,
sempre fui muito bem protegido. Ah, sim o responsável pelos amores é
Santo Antonio e, para me vingar dele lembro a meus 3 ou 4 leitores que
suas imagens são, geralmente, pequeninas:
“Não
quero Santo Antônio grande
Dentro dos meus oratórios,
Eu quero é um pequenino
Que ouve meus peditórios.”
Mas comecei falando do
Saci e ia terminar falando mal de Santo Antonio. É que, com a idade,
começamos a misturar as coisas. Mas para que os devotos não me censurem
termino com uma oração, aliás propícia para o momento, já que estou
solteiro:
“Meu
Santo Antonio querido,
Eu vos peço, por quem sois,
Dai-me a primeira mulher
Que as outras eu arranjo depois...”
(19 de agosto/2006)
CooJornal
no 490