08/07/2006
Ano 9 - Número 484


ARQUIVO
BRAZ CHEDIAK

 

 

Braz Chediak



UMA PEQUENA HOMENAGEM

 

Durante muitos anos, por atraso e preconceito, não ouvi música caipira, falha que deixou em mim uma grande lacuna cultural. Tentando amenizar este erro, torcendo para que as novas gerações não o repitam, quero prestar minha homenagem a Angelino de Oliveira pelo cinqüentenário de sua morte, que passou despercebido, e por nos ter legado verdadeiros clássicos da Música Popular Brasileira.

Tristeza do Jeca, gravada originalmente por Paraguaçu - assim mesmo com “ç”-, regravada por Tonico e Tinoco emocionou o país e foi um sucesso tão grande que atravessou fronteiras e tornou-se conhecida em diversos continentes.

Nascido em Itaporanga, em 17 de junho de 1889, Angelino de Oliveira foi dentista, escrivão de polícia, comerciante, radialista e, sobretudo, músico e compositor. CABOCLO VELHO, ENCRUZILHADA, SABIÁ e PRECE, são verdadeiros clássicos que sofreram discriminação pelos “intelectuais”, - assim mesmo, entre aspas - europeizados e hoje fazem parte da nossa história.

Criado em Botucatu, onde o comércio de café e algodão atraía lavradores, tropeiros, mascates, etc., ali tomou contato com violeiros vindos de diversos pontos do Brasil, em busca oportunidades. Mais tarde, em Ribeirão Preto, fez o curso de odontologia. Mas a atração pela Arte foi mais forte e, retornando a Botucatu, abriu a loja A MUSICAL, onde vivia em meio às partituras, instrumentos, etc. Espírito irrequieto e como o comércio não o agrada, fecha a loja, o consultório de dentista e vai trabalhar na Rádio Municipal, onde ocupa o posto de diretor artístico. Nesta mesma época, ingressa na Banda de Música São Benedito, onde toca trombone. É também exímio violinista e violonista.

Sua biografia é extensa e não cabe em uma crônica, por isto vamos encerrar esta homenagem, consciente de que Angelino de Oliveira, falecido, aos 74 anos, em 24 de abril de 1964, foi um dos que ajudaram na formação de nossa alma brasileira e nos deixou, entre tantas outras músicas, este verdadeiro “Hino Caipira” que é
Tristeza do Jeca

“Nestes versos tão singelos
Minha bela, meu amor
Prá você quero contar
O meu sofrer e a minha dor
Eu sou como o sabiá
Quando canta é só tristeza
Desde o galho onde está
Nesta viola eu canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade
Eu nasci naquela serra
Num ranchinho a beira chão
Todo cheio de buraco
Onde a lua faz clarão
Quando chega a madrugada
Lá no mato a passarada
Principia o barulhão
Nesta viola, eu canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade
Vou guardar minha viola
Já não posso mais cantar
Pois o Jeca quando canta
Dá vontade de chorar
O choro que vai caindo
Devagar vai se sumindo
Como as águas vão pro mar
Nesta viola, eu canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade.”



(08 de julho/2006)
CooJornal no 484


Braz Chediak,
cineasta e escritor
Três Corações, MG
brazchediak@gmail.com