Braz Chediak
UMA PEQUENA HOMENAGEM |
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Durante muitos anos, por
atraso e preconceito, não ouvi música caipira, falha que deixou em mim
uma grande lacuna cultural. Tentando amenizar este erro, torcendo para
que as novas gerações não o repitam, quero prestar minha homenagem a
Angelino de Oliveira pelo cinqüentenário de sua morte, que passou
despercebido, e por nos ter legado verdadeiros clássicos da Música
Popular Brasileira.
Tristeza do Jeca, gravada originalmente por Paraguaçu - assim mesmo com
“ç”-, regravada por Tonico e Tinoco emocionou o país e foi um sucesso
tão grande que atravessou fronteiras e tornou-se conhecida em diversos
continentes.
Nascido em Itaporanga, em 17 de junho de 1889, Angelino de Oliveira foi
dentista, escrivão de polícia, comerciante, radialista e, sobretudo,
músico e compositor. CABOCLO VELHO, ENCRUZILHADA, SABIÁ e PRECE, são
verdadeiros clássicos que sofreram discriminação pelos “intelectuais”, -
assim mesmo, entre aspas - europeizados e hoje fazem parte da nossa
história.
Criado em Botucatu, onde o comércio de café e algodão atraía lavradores,
tropeiros, mascates, etc., ali tomou contato com violeiros vindos de
diversos pontos do Brasil, em busca oportunidades. Mais tarde, em
Ribeirão Preto, fez o curso de odontologia. Mas a atração pela Arte foi
mais forte e, retornando a Botucatu, abriu a loja A MUSICAL, onde vivia
em meio às partituras, instrumentos, etc. Espírito irrequieto e como o
comércio não o agrada, fecha a loja, o consultório de dentista e vai
trabalhar na Rádio Municipal, onde ocupa o posto de diretor artístico.
Nesta mesma época, ingressa na Banda de Música São Benedito, onde toca
trombone. É também exímio violinista e violonista.
Sua biografia é extensa e não cabe em uma crônica, por isto vamos
encerrar esta homenagem, consciente de que Angelino de Oliveira,
falecido, aos 74 anos, em 24 de abril de 1964, foi um dos que ajudaram
na formação de nossa alma brasileira e nos deixou, entre tantas outras
músicas, este verdadeiro “Hino Caipira” que é
Tristeza do Jeca
“Nestes versos tão singelos
Minha bela, meu amor
Prá você quero contar
O meu sofrer e a minha dor
Eu sou como o sabiá
Quando canta é só tristeza
Desde o galho onde está
Nesta viola eu canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade
Eu nasci naquela serra
Num ranchinho a beira chão
Todo cheio de buraco
Onde a lua faz clarão
Quando chega a madrugada
Lá no mato a passarada
Principia o barulhão
Nesta viola, eu canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade
Vou guardar minha viola
Já não posso mais cantar
Pois o Jeca quando canta
Dá vontade de chorar
O choro que vai caindo
Devagar vai se sumindo
Como as águas vão pro mar
Nesta viola, eu canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade.”
(08 de julho/2006)
CooJornal
no 484