01/07/2006
Ano 9 -
Número 483
ARQUIVO
BRAZ CHEDIAK |
Braz Chediak
BUSSUNDA, HUMORISTA DO TEMPO |
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“O que significa o riso?
Que haverá no fundo do risível? Que haverá de comum entre uma careta de
bufão, um trocadilho, um quadro de teatro burlesco e uma cena de fina
comédia? Que destilação nos dará a essência, sempre a mesma, da qual
tantos produtos variados retiram ou o odor indiscreto ou o delicado
perfume? Os maiores pensadores, desde Aristóteles, aplicaram-se a esse
pequeno problema, que sempre se furta ao empenho, se esquiva, escapa, e
de novo se apresenta como impertinente desafio lançado à especulação
filosófica.”. Assim Henri Bergson, no longínquo ano de 1899 inicia seu
ensaio sobre O SIGNIFICADO DO CÔMICO, e desde então muitos
comediantes têm nos dado alegrias, nos levam a pensar em nossas mazelas
políticas, econômicas, religiosas, etc., etc., e nos ajudam a
compreender melhor nossa condição humana pois, como afirma o filósofo,
“não há comicidade fora do que é propriamente humano”.
Bussunda compreendia o Humano e o representava com inteligência e graça.
Era um artista que tinha a alma brasileira. Era o bufão e a consciência
de seu povo. Não convivi com ele mas o conheci, na Rua Nascimento Silva,
quando ele ainda muito jovem lançou o Casseta Popular e, de maneira
irônica, que nos deixava em dúvida se criticava aos cineastas ou à
própria crítica que implicava com as comédias brasileiras apelidando-as
pejorativamente de pornochanchadas. Usando frases dos personagens
e dos escribas mal humorados que as criticavam, levava seus leitores à
reflexão. Pessoa livre e sem preconceitos, foi com esse humor
irreverente e novo, e com a crítica política constante que ele chamou a
atenção da juventude de seu tempo.
Seu sucesso foi rápido. Tendo começado o Casseta Popular por volta de
1980, poucos anos depois, em 1988, trabalhou como redator da TV Pirata,
dando seu toque picaresco ao programa televisivo e, perdoem-me a frase
feita, depois dele o humor da telinha nunca mais foi o mesmo. Em seguida
uniu-se a outro ícone: o PLANETA DIÁRIO, e não pararam mais.
Incansável, o que me parece uma característica dos grandes humoristas –
vide Chico Anysio e Jô Soares - mesmo com o sucesso na TV, Bussunda,
cujo nome verdadeiro era Cláudio Besserman Vianna, continuou seu
trabalho como cronista, jornalista, ator, dublador, etc. etc., além de
gravar três CDs e fazer uma peça de teatro.
Num país de grandes talentos, ele e sua turma alcançaram a qualidade dos
mestres como Oscarito, Grande Otelo, Chico Anysio, Jô Soares, Ronald
Golias, Agildo Ribeiro, Tom Cavalcante, etc., etc.
Hoje o país está triste. Do Presidente da República, que manifestou seu
espanto e pesar, ao mais humilde dos brasileiros, há o sentimento da
perda de um companheiro, de um irmão arteiro e artista que nos
transmitia a ternura engraçada desta pátria criança que ele fazia rir de
si mesma.
Comecei citando Bergson em O SIGNIFICADO DO CÔMICO e termino citando-o
em A EVOLUÇÃO CRIADORA para falar de Bussunda, que se foi
mas continua vivo, para sempre, na história do humor brasileiro e “em
todo lugar onde alguma coisa vive, existe, aberto em alguma parte, um
registro onde o tempo se inscreve”. AD ETERNITATEM.
(01 de julho/2006)
CooJornal
no 483
Braz Chediak,
cineasta e escritor
Três Corações, MG
brazchediak@gmail.com
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