14/01/2006
Número - 459
ARQUIVO
BRAZ CHEDIAK |
Braz Chediak
MARILYN MONROE |
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Dentre
as notícias dos jornais desta semana, uma, pequena, escondida num canto
de página me chamou a atenção: objetos particulares de Marilyn Monroe
estão expostos num navio – como peças de museu – para visitação pública.
“Ouro, diamantes, jóias caríssimas...”, pensarão os que fizeram parte da
geração que amava Marilyn como símbolo sexual, objeto de desejo, e a
imaginava como uma “starlet” milionária cuja única preocupação era posar
para as câmeras, fazer beicinhos e dizer aquele “Ooohhhh” inesquecível.
Não. Esta Marilyn, a falsa Marilyn, morreu com Norma Jean – seu nome
verdadeiro - no dia 5 de agosto de 1962.
O que está exposto são apenas coisas afetivas como, por exemplo, um
bilhete escrito por seu ex-marido Joe DiMaggio, uma caixinha de
maquiagem, uma sandália, jeans, camisetas baratas e, surpreendentemente,
uma “minúscula estatueta da Virgem da qual não se separava nunca.”
Sabemos que em vida, Marilyn Monroe foi amada e invejada por homens e
mulheres da mesma maneira que foi massacrada pelos críticos e
intelectuais que a rotulavam de “loura burra”, “atriz de segunda” e
tantos termos mais, simplesmente por ela cometer o que na época era um
pecado imperdoável: ser bela, jovem e fazer sucesso, estrondoso sucesso
em todo o planeta.
Hoje, 43 anos depois de sua morte, misteriosa e ainda não explicada,
reconhecemos a atriz maravilhosa, a mulher séria que um dia deu “até
logo” para o sucesso e foi para Nova York estudar no Actors Studios,
entregando-se nas mãos do mestre Lee Strasberg com a humildade dos
principiantes. Reconhecemos a pessoa inteligente, que recusou-se a
continuar representando papéis fúteis e idiotas - que ela, aliás,
transformava em interpretações inesquecíveis -, e para ter a liberdade
de opção tornou-se a primeira mulher a produzir seus próprios filmes.
Reconhecemos a imensa atriz que foi e é paradigma de uma multidão de
boas atrizes em todo o mundo.
Filmes como O PECADO MORA AO LADO (The Seven Year Itch) e
QUANTO MAIS
QUENTE MELHOR (Some Like It Hot), ambos dirigidos por Billy Wilder, e
NUNCA FUI SANTA (Bus Stop), dirigido por Joshua Logan são demonstrações
claras e magníficas de sua arte.
Hollywood tinha outras atrizes fantásticas, como Khatherine Hepburn,
Bette Davis, Ingrid Bergman, etc., etc., mas era Marilyn quem brilhava
com mais intensidade e por isto não foi perdoada. Ninguém percebia, até
àquele trágico 5 de agosto, quando ela foi encontrada morta em seu
quarto, paralisada no gesto patético de quem tentava pegar o telefone, a
mulher solitária, o Ser Humano que, ao apagar das luzes, precisava de
bebida, comprimidos para dormir, para acordar, para se manter de pé e,
mais que tudo, de companhia, de confiar em alguém, de ser amada e
compreendida por seus pares.
Ela era insegura, como todas as atrizes, e nos diz isto com humildade:
“No meu primeiro dia de filmagem em O SEGREDO DAS JÓIAS, estava
aterrorizada. Eu sempre tive medo dos estúdios. Mas John Huston
aproximou-se de mim e disse: “Olha o Calhern (Louis Calhern, ator já
veterano na época), meu bem. Vê só como ele está se borrando ali no
canto. Se você não ficasse nervosa também, meu benzinho, então era
melhor desistir.”
Sua morte foi, para todos, um choque e dela falou o sociólogo Edgar
Morin: “... a paixão de Marilyn Monroe fará dela não somente a última
estrela do passado, mas a primeira estrela sem “star system”. E Norman
Mailer: “... Marilyn era libertação, um perfeito stradivarius do sexo,
tão deslumbrante, clemente, graciosa, complacente e terna, que até o
mais medíocre dos músicos se desprenderia de sua falta de arte na magia
dissolvente de seu violino.” E dela continuam falando estudiosos de
cinema, sociólogos, poetas e filósofos.
Seus objetos pessoais serem expostos num navio é significativo: Marilyn
Monroe foi uma eterna navegante que teve a ousadia de sonhar, e
desafiando os padrões de sua época, combater o bom combate. Que agora
descanse em paz nos páramos infinitos onde as estrelas brilham e, ao
contrário daqui, se iluminam entre si com a luz da ternura e do amor.
(14 de janeiro/2006)
CooJornal
no 459
Braz Chediak,
cineasta e escritor
Três Corações, MG
brazchediak@bol.com.br
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