Braz Chediak
UMA CRÔNICA |
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Rubem Braga, em
sua crônica FORÇA DE VONTADE, nos conta a história de um
indivíduo que tinha três ideais na vida: ajudar os pais na velhice, ter um
diploma e visitar um país estrangeiro.
O personagem do Velho Braga não bebia, não fumava, nunca se casara, não se
dava ao luxo de nenhum prazer e levava uma vida regrada, pensando apenas
em sua meta.
Morando em São Paulo com os pais, recusa uma “boa posição” em uma empresa
carioca para não ter que se mudar para o Rio, cidade que sempre quisera
conhecer. Explica o cronista que “para cumprir cada um de seus três ideais
pusera ele mesmo um obstáculo diante de cada um”.
Seus pais já estão velhos, seu diploma é um quadro na parede. Mas são dois
ideais realizados. Em uma excursão a Foz do Iguaçu pode atravessar a ponte
e conhecer um país estrangeiro: o Paraguai. Realizando assim o terceiro.
Depois fica sozinho no saguão do hotel, sério, triste, aparvalhado, “como
um homem que não tivesse mais coisa alguma a fazer na vida, e acabasse de
descobrir isso.”.
A crônica é de 1951, mas ainda hoje, 54 anos depois, continua atual e nos
faz pensar na triste condição humana.
Ainda esta semana, assistindo a uma entrevista na TV com jovens de
diversas cidades do país, pude verificar a falta de grandes horizontes, o
acomodamento, a falta de sonhos justamente naqueles que, começando a vida,
deveriam sonhar mais, não se contentando em apenas atravessar uma ponte.
Talvez isto seja o reflexo da descrença em nossos valores, na decepção com
nossos sonhos, com a corrupção que não acaba, com a violência que aumenta,
com a omissão de nossos líderes, etc., etc.
Talvez a insegurança leve os jovens a se tornarem velhos.
O Brasil, país gigantesco e rico, que poderia ser a pátria da alegria,
torna-se um deserto de idéias, um cemitério de promessas, e isto nos
entristece.
Talvez daqui a 54 anos surja outro capixaba sonhador e rabugento, como o
Velho Braga, capaz de perceber que a alma brasileira anda aparvalhada como
o rosto daquele homem no saguão do hotel.
Talvez daqui a 54 anos outro cronista nos ajude a meditar sobre isto.
Talvez.
(07 de maio/2005)
CooJornal
no 419