Artur da Távola
A VIDA COMEÇA AOS 50
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Hoje passou por mim, talvez vinda de alguma piscina,
uma saudável e sacudida mulher na casa de seus cinquenta e tantos anos.
Alegre, catita, sedutora. Essas mulheres assim repletas de seiva,
vejo-as em plena atividade: festas, serestas, bingos, esportes, namoros
e casamentos.
Qualquer mulher que hoje esteja entre os 50 e os 65
anos viveu uma das fases mais difíceis da acelerada transição destes
últimos 30 anos, no mundo, no ser, nas sociedades. O mundo já havia
mudado, quando as mulheres dessa geração assumiram uma série de
compromissos no campo sentimental, amoroso, sexual, profissional e
matrimonial. Mas os indícios da mudança ao alcance delas eram pouco
nítidos. Elas podiam até ter uma vaga percepção de que algo começava a
ser diferente, mas os apelos do ’’statuquo-ante‘‘, ou seja, da situação
anterior, eram nítidos, fáceis de ver, de tocar, de materializar.
Então elas casaram de um determinado jeito: tiveram filhos com uma
certa visão das coisas; estudaram e trabalharam, conciliando terríveis
dilemas; foram fazer análise, cansaram-se, desesperaram-se. Esperaram os
filhos crescer e aí voltaram a estudar, acomodaram-se umas, rebelaram-se
outras, ambas a sofrer. Enfim, o panorama é vasto. Importa dizer que
entre os compromissos que assumiram e tudo o que descobriram depois
havia um abismo.
Este abismo assumiu (assume) a forma de angústia
ou de impasses terríveis. Algumas sucumbiram às maneiras de ser
anteriores; outras lutaram para se adaptar aos novos valores, mas a
formação antiga freou tudo; terceiras se descontrolaram e caíram numa
espécie de desespero existencial em busca do tempo perdido, que
igualmente deixou sofrimentos muito fundos; quartas tentam – tentaram –
um meio termo morno, ou seja, o equilíbrio possível, mas quase secaram,
de frustração.
Não é fácil ser formada com ideias de tempos que
acabaram e ter que viver depois que eles acabaram, embora aparentem
ainda dominar a sociedade.
Não é fácil, mas elas conseguiram:
desbravaram caminhos, superaram barreiras, venceram dificuldades para se
permitirem viver, existir, e aí estão, nos dando um ’’show de
sobrevivência’’, abrindo novamente os caminhos para outras gerações,
começando a vida aos 50.
Enviado pelo autor ao CooJornal nº 601 da
Revista Rio Total, em 03/0/2008)
I.m. Artur da Távola
escritor, poeta, radialista
RJ
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