01/06/2024
Ano 27 Número 1.369
ARTUR DA TÁVOLA
ARQUIVO
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Artur da Távola
TEXTO QUE GOSTARIA DE TER ESCRITO
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Todas as pessoas que escrevem às
vezes encontram um texto que as obriga a pensar ou a dizer: “Puxa,
este é o texto que gostaria de ter escrito e outro já o fez com maior
precisão e brilho". Pois deu-se comigo nesta semana: Li na internet algo
que me deu a vontade de ter escrito antes do autor que depois soube ser
o Pastor Ricardo Gondim.
Não pense o meu editor que estou
“matando” trabalho. Mas este definiu com precisão absoluta o que se
passa com uma pessoa na minha idade e que já viu e viveu tanta coisa do
chamado mundo externo, que o máximo que deseja é seguir no trabalho para
o qual é vocacionado e na deslumbrante aventura do mundo interior. O
texto de Ricardo Gondim chama-se “Tempo que Foge”“ e diz o seguinte:
“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui
para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que
ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente,
mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho
tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões
onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com
invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares,
talentos e sorte. Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para
reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de
um fim de semana com a proposta de abalar o milênio. Já não tenho tempo
para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas,
procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para
administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são
imaturas. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de
"confrontação", onde "tiramos fatos à limpo". Detesto fazer acareação de
desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "as pessoas não
debatem conteúdos, apenas os rótulos". Meu tempo tornou-se escasso para
debater rótulos.
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao
lado de gente humana, muito humana; que sabe aceitar tropeços, não se
encanta com triunfos, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade,
exercita a espontânea sinceridade e deseja andar humildemente com Deus.
Caminhar perto delas nunca será perda de tempo."
(09 de junho/2007) Revista Rio Total, CooJornal nº 532
I.m. Artur da Távola
escritor, poeta, radialista
RJ
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