16/04/2024
Ano 27 Número 1.363
ARTUR DA TÁVOLA
ARQUIVO
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Artur da Távola
MÃES, SEMPRE ELAS
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Divido as pessoas em quatro categorias: 1) as criadas por mãe; 2) as
criadas por pai; 3) as criadas por escola, ou religiões; 4) as criadas
por rua.
Apresso-me a dizer que não há tipos puros. São
raríssimos. Em geral, dois tipos de criação predominam. “Criado por” é a
maneira popular de tipificar o “molde” educacional preponderante na
formação de alguém. Em cada pessoa domina um tipo de modelagem
(educação?). É o que mais a influenciou. Pode ter, por exemplo, presença
fortíssima do pai na educação, mas haver incorporado a formação recebida
na escola, ou na rua. Começo por mim. Sou um típico criado por mãe e
rua. O pai morreu cedo, e a escola, mesmo, foi a da vida e a sabedoria
da mãe. A leitura e trabalhar desde cedo muito me ajudaram. Vou em
frente. Renovado, porque sempre em obras... A influência da mãe opera na
linha da sensibilidade e da sabedoria. A influência da rua opera na
linha da capacidade de ir à luta e aprender a compreender e a se
defender.
O machão, por exemplo, é um tipo criado pelo pai, com
forte influência da rua. Ou só da rua. As pessoas em quem predomina a
influência da escola, ou de alguma religião, em geral são parecidas no
modo de comportamento. Por exemplo: todos os ex-alunos de colégios de
padre (sobretudo jesuítas e dominicanos) têm um comportamento parecido,
que respeita as normas e regras e vai para a vida, de modo correto e
conservador. São pessoas resistentes ao novo. Com exceções, é claro.
Estou disfarçando a emoção, pois o que desejo, mesmo, é lembrar
minha mãe. Sírio-gaúcha valente. Como tantas que hoje recebem
homenagens. Decidida, honesta, viúva com 37 anos e já havendo perdido
uma filha de cinco anos.
Poderia ser daquelas superprotetoras,
que querem o menininho à barra de sua saia. Nada disso. Tirava-me cedo
da cama para ir ao colégio e faculdade, mesmo quando não houvesse a
primeira aula. Viveu para doar-me amor e dedicação. Foi do estilo
“mãepai”. Aos quinze anos, deu-me a chave da casa. Isso me permitiu a
exata dose de rua e de responsabilidade, a qual se mesclou a seu amor,
num resultado que me faz dela lembrar-me hoje, amanhã e sempre, com
amor, saudade, coragem e gratidão incondicionais.
I.m. Artur da Távola
escritor, poeta, radialista
RJ
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