01/08/2024
Ano 27 Número 1.377
ARTUR DA TÁVOLA
ARQUIVO
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Artur da Távola
SABER SER PAI
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De todas as patifarias, perguntas boas,
perguntas cretinas, mentiras deslavadas, e sujeira que a população assiste
estarrecida nestes dias de CPIs na televisão, só acontecem alguns ESCASSOS E
RAROS minutos de humanidade. É quando acusados e investigadores falam nos
filhos. É o momento em que são pais. Isso me faz lembrar velhas idEias que
tenho sobre o que é ser pai, pai que sou de três filhos de sangue, duas filhas
do coração e sete netos deslumbrantes.
Ser pai é, acima de tudo, não
esperar recompensas. Mas ficar feliz caso e quando cheguem. É saber fazer o
necessário por cima e por dentro da incompreensão. É aprender a tolerância com
os demais e exercitar a dura intolerância (mas compreensão) com os próprios
erros.
Ser pai é aprender, errando, a hora de falar e de calar. É
contentar-se em ser reserva, coadjuvante, deixado para depois. Mas jamais
falar no momento preciso. É ter a coragem de ir adiante, tanto para a vida
quanto para a morte. É viver as fraquezas que depois corrigirá no filho,
fazendo-se forte em nome dele e de tudo o que terá de viver para compreender e
enfrentar.
Ser pai é aprender a ser contestado mesmo quando no auge da
lucidez. É esperar. É saber que experiência só adianta para quem a tem, e só
se tem vivendo. Portanto, é aguentar a dor de ver os filhos passarem pelos
sofrimentos necessários, buscando protegê-los sem que percebam, para que
consigam descobrir os próprios caminhos.
Ser pai é saber e calar. Fazer
e guardar. Dizer e não insistir. Falar e orientar. Dosar e controlar-se.
Dirigir sem demonstrar. É ver dor, sofrimento, vício, queda e tocaia, jamais
transferindo aos filhos o que, a alma, lhe corrói. Ser pai é ser bom sem ser
fraco. É jamais transferir aos filhos a quota de sua imperfeição, o seu lado
fraco, desvalido e órfão.
Ser pai é saber ir-se apagando à medida em
que mais nítido se faz na personalidade do filho, sempre como influência,
jamais como imposição. É saber ser herói na infância, exemplo na juventude e
amizade na idade adulta do filho. É saber brincar e zangar-se. É formar sem
modelar, ajudar sem cobrar, ensinar sem o demonstrar, sofrer sem contagiar,
amar sem receber.
Ser pai é, enfim, colher a vitória exatamente quando
percebe que o filho a quem ajudou a crescer já, dele, não necessita para
viver. É quem se oculta na obra que realizou e sorri, sereno, por tudo haver
feito para deixar de ser importante.
(Revista Rio Total, CooJornal nº 420, 16 de julho/2007)
I.M. Artur da Távola
escritor, poeta, radialista
RJ
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