Artur da Távola
IPANEMA, ANOS 40
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Meu pai queria morar em Campo Grande à
época, zona rural, porque ele era engenheiro agrônomo. Minha mãe
insistiu para morar em Ipanema, por ter a intuição de ser um bairro com
futuro. E assim meus pais, ele funcionário público, se mudaram em 1936,
quando nasci, para uma vila de quatro casas à rua Visconde de Pirajá, Nº
172, entre a Teixeira de Melo e a Farme de Amoedo. Vivi até os 21 anos
nessa vila que era o epicentro de meu universo. De lá eu soltei pipa
muitas vezes; e também, da praia. Lá abri os olhos para a vida.
Embora adorasse ler e ouvir rádio eu já estava ficando meio moleque, e
me lembro de ir tascar balão... Na época das festas de São João, caía
muito balão em Ipanema. E a garotada saia feita louca: "tasca, tasca,
tasca!". Nessa época havia festa de São João nos colégios e quermesse da
Igreja Nossa Senhora da Paz na praça homônima e defronte que ficava
cheia de barraquinhas. Eu já olhava para as meninas. Sentia uma coisa
estranha que não identificava mas emocionava.
Perto da minha casa e
ao lado do Colégio Fontainha onde fiz o primário havia um bar que se
chamava Renania, e depois veio a ser o famoso Jangadeiros A esse tempo
mudou de nome por causa da guerra. O bar era de um alemão, que tinha uma
filha linda, chamada Cristina que foi minha colega de turma no Colégio
Fontainha e depois no Andrews. Eram: ela e uma turquinha no mesmo
quarteirão que depois sumiu. O antecessor do Jangadeiros era um bar
mais para chopp... No balcão podíamos comprar queijo, arenque marinado,
patês, pão preto, comida alemã, que à época era uma exceção. Meu pai
gostava dessas comidas alemãs e costumava trazer para casa, inclusive um
queijo fedorento e saborosíssimo chamado Linburgo.
Não existia
supermercado, nem se falava nisso, era armazém. Perto de onde eu vivia,
a Casa Osório – onde se comprava arroz, feijão, batata, carne seca e se
botava “na conta”, um caderninho que permitia a cobrança mensal. Tudo
era em confiança. Quase ao lado de nossa casa ficava a Padaria Brasil do
“Seu Abel”, e, quase ao lado, dela. uma confeitaria elegante a
Confeitaria Pirajá, que era, por sua vez, uma filial da famosa Casa
Heim, uma espécie de Lidador da época. Tudo perto. E havia a Farmácia
Pirajá, cujo dono era um camarada grandão chamado seu Paixão. Perto
também havia uma loja de brinquedos, a única do bairro, chamada Casa
Umary. Eu e um amigo, o Ronaldo Ferreira Gomes, quando chegava a época
do Natal, nós com 12 para 13 anos íamos “ajudar” na casa Umary e depois
o dono nos “pagava” com um bom presente da loja. O pai desse meu amigo
havia sido jogador do Flamengo o Vadinho, mas o nome dele era “Seu
Osvaldo”. Para mim era um acontecimento conhecer e ser conhecido por um
jogador de futebol. Era uma honra insuperável. E ele nos contava
façanhas de seu tempo nos gramados. Paralelamente ao cinema dos fins
de semana (Ipanema ou Pirajá), outra realidade muito forte na infância
dos anos 40 do século 20, foram as histórias em quadrinhos. Tinha o
Tarzan, o Dick Tracy, que era um detetive formidável, o Charlie Chan, um
detetive chinês que nunca deu um soco, mas resolvia tudo, e que depois
foi para o cinema. Havia ainda o Fantasma Voador, o Bronco Piller, que
era um caubói. O Príncipe Valente, com as histórias do tempo do Rei
Artur, eram muito bem desenhadas e deve ter influenciado este meu
pseudônimo. Eu o admirava, emocionado.
Enviado pelo autor ao CooJornal nº 428 da
Rio Total, em 09 de julho/2005)
I.m. Artur da Távola
escritor, poeta, radialista
RJ
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