17/08/2012
Ano 16 - Nº 800



 

ARQUIVO
ANTONIO NAHUD



 

 

Antonio Nahud Júnior


ALAIN DELON, A BELA CARA DO MAL
 

Antonio Nahud Junior, colunista - CooJornal

Alain Delon

Toneladas de tinta já foram derramadas na análise das características profissionais e pessoais de ALAIN DELON (nascido em 1935), um dos ícones do cinema francês. Conhecido como “o homem mais belo do mundo” durante duas décadas, o ator rodou cerca de 80 filmes. Embora tenha protagonizado longas de complexidade artística, sua extensa carreira terminou por marcá-lo como a estampa ideal para personagens solitários, sombrios, frios e violentos, que tem algo a esconder ou que estão remoídos por dores e dúvidas. Segundo seus biógrafos, sua vida daria um filme emocionante. Quando tinha quatro anos, seus pais se divorciaram, passando a ser criado por pais adotivos, perto de uma prisão, onde brincava com os guardas. Depois que estes pais adotivos foram misteriosamente assassinados, voltou a morar com a mãe verdadeira, agora casada com outro homem. Teve uma infância problemática, sendo expulso de várias escolas. Aos 15 anos parou de estudar e, aos 17 anos, alistou-se na marinha francesa, tornando-se paraquedista dos fuzileiros navais na Guerra da Indochina. Em 1956, morando em Paris, sem dinheiro, trabalhou como porteiro, garçom, secretário, vendedor e açougueiro. Em 1957, foi ao Festival de Cannes com o amigo Jean-Claude Brialy (que já havia feito curtas e pontas), chamando a atenção de muita gente por sua beleza, entre eles o produtor norte-americano David O. Selznick (o mesmo que havia levado Louis Jourdan para Hollywood no final dos anos 40), que lhe ofereceu um contrato de sete anos, desde que aprendesse a falar inglês. Retornando a Paris para estudar o idioma de Tio Sam, conheceu o cineasta Yves Allégret, que o convenceu a começar sua carreira na França. Com ele, fez seu primeiro filme, num pequeno papel em “Uma Tal Condessa / Quand la Femme s'en Mele” (1957).

No romântico “Christine / Idem” (1958), contracenou com a austríaca Romy Schneider, três anos mais nova, e eles se apaixonaram. Em 1959, foram morar juntos, e o romance tempestuoso, marcado pela infidelidade bissexual do jovem ator, durou cinco anos, ajudando a desequilibrar ainda mais a personalidade já instável da atriz. Mas a relação terminou por causa de uma outra mulher. Ao voltar dos Estados Unidos, Romy encontrou o apartamento dos dois vazio e um bilhete com uma frase quase banal que a torturou até o final de sua vida: "Vou para o México com Nathalie". A atriz nunca superou o golpe, não só por ter perdido o seu grande amor. O trauma de ter sido abandonada mais uma vez, como na infância havia sido pelo pai, fez dessa separação um acontecimento ainda mais doloroso. Em 1977, cinco anos antes de morrer, Romy confessou que ALAIN DELON foi o homem mais importante de sua vida. Ainda vivendo com Romy, ele fez o seu primeiro grande papel: o Tom Ripley no clássico de suspense “O Sol por Testemunha / Plein Soleil” (1960), de René Clément, baseado no livro policial de Patricia Highsmith. Pele bronzeada, olhos azuis faiscando sob o cabelo revolto, causou frisson, numa aparição mortalmente atraente. O mundo inteiro exclamou: “Como ele é sexy”. Na época, nos bastidores, muito se falou sobre o seu caso com Clément, então com 47 anos, que iria dirigi-lo novamente em “Que Alegria de Viver / Che Gioia Vivere” (1961), “Jaula Amorosa / Les Félins” (1964) e “Paris Está em Chamas? / Paris Brûle-t-il?” (1966).

Em 1960, sob o comando de Luchino Visconti, atuou em “Rocco e seus Irmãos / Rocco e i Suoi Fratelli”, um dos dramas mais adorados da história do cinema. Ator e diretor se tornaram amantes, trabalhando juntos mais uma vez em outro clássico, “O Leopardo / Il Gattopardo” (1963), vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes. A beleza física de DELON transformou-o imediatamente em símbolo sexual. Apesar disso, sempre lutou para ser reconhecido como um bom ator, e não apenas um rosto Com Monica Vitti em "O Eclipse" bonito. Em 1962 rodou “O Eclipse / L’Eclisse”, última parte da célebre “Trilogia da Incomunicabilidade” de Michelangelo Antonioni. Sua parceria com Jean-Pierre Melville também foi extraordinária, gerando longas inesquecíveis como “O Samurai / Le Samouraï” (1967) - o matador de aluguel profissional Jef Costello é um dos seus papéis mais famosos -, “O Círculo Vermelho / Le Cercle Rouge” (1970) e “Expresso para Bourdeaux / Un Flic” (1972). Trabalhou ainda com outros notáveis cineastas, como Alain Cavalier, Louis Malle, Julien Duvivier, Valerio Zurlini, Joseph Losey, Jean-Luc Godard, Völker Schlöndorf, Bertrand Blier e Patrice Leconte. Paralelamente, tentou lançar a sua carreira em Hollywood, mas os resultados ficaram longe do desejável: “O Rolls-Royce Amarelo / The Yellow Rolls Royce (1964), “A Marca de Um Erro / Once a Thief” (1965) e “A Patrulha da Esperança / Lost Command” (1966) foram fracassos de bilheteira e de crítica. Em 1964, casou-se com a atriz Nathalie Delon, separando-se em 1969. Nos anos seguintes, teve um longo relacionamento com outra atriz, Mireille Darc. Em 1968, ainda casado com Nathalie, ocorreu um escândalo em sua trajetória. Um dos seus guarda-costas, Stevan Markovic, apareceu morto com um tiro, e as investigações pareciam mostrar o envolvimento do ator e de outras personalidades no ocorrido. A seguir, outro escarcéu o envolveu em orgias bissexuais e mostrou suas ligações com o gangster corso François Marcantoni. Mas nada parecia abalar sua idolatrada reputação pública.

Nos anos 70, a carreira de ALAIN DELON deu uma reviravolta quando o ator optou por participar de muitos filmes comerciais, de ação, geralmente como produtor e em três deles como diretor. Em 1973, sua amiga de longa data e ex-amante, a cantora Dalida, convidou-o para fazer um dueto com ela, na canção “Paroles, Paroles”, que se revelou um enorme sucesso. Em 1987 conheceu a modelo holandesa Rosalie Van Bremen, 32 anos mais nova que ele, iniciando um profundo relacionamento com ela. O divórcio aconteceu em 2001. Essa separação foi muito difícil para ele, que passou a conviver com períodos de depressão e confessou ter pensado inclusive em suicídio. DELON ganhou o prêmio César de Melhor Ator por “Quartos Separados / Notre Histoire” (1984) e o Urso de Ouro Honorário, no Festival de Berlim, em 1995. Mesmo tendo anunciado o fim de sua carreira em 1998, retornou ao cinema em “Asterix nos Jogos Olímpicos / Astérix aux Jeux Olympiques” (2008), no papel do conquistador romano Júlio César. Pouco antes, fez algumas minisséries televisivas (“Fabio Montale”, 2001, e “Frank Riva”, 2003), sem deixar de dirigir com competência a empresa "Alain Delon Diffusion", que imprime até hoje o seu nome em relógios, roupas, óculos, champagne, conhaque, papelaria e cigarros.

Durante muito tempo, ALAIN DELON foi o ator mais rentável do cinema francês, tendo atraído às salas mais de 100 milhões de espectadores. A imprensa estrangeira costumava lhe chamar de “Brigitte Bardot masculina”, pelo físico atraente e pelo sucesso internacional. Há cerca de dez anos, depois do lançamento da autobiografia do ator Helmut Berger e de um livro sobre sua vida, não autorizado, do jornalista Bernard Violet, ele assumiu publicamente sua bissexualidade. Berger revelou o caso de DELON com Visconti, na época de "Rocco e seus Irmãos", e Violet foi mais longe, contando detalhes sobre suas aventuras amorosas com ambos os sexos e envolvimentos suspeitos com mafiosos e políticos de reputação duvidosa, além de problemas com álcool e drogas. Aos 76 anos, Cavaleiro da Legião de Honra Francesa, ele ainda atua com a mesma característica que o marcou: a imagem enigmática e blasé e o contraste da beleza do rosto de anjo com a corrupção da alma de demônio. É, sem dúvida nenhuma, uma das maiores estrelas européias de todos os tempos.


OS 10 MELHORES FILMES DE DELON

(01)
ROCCO E SEUS IRMÃOS
Rocco e i Suoi Fratelli (1960)
de Luchino Visconti
Com Renato Salvatori, Annie Girardot,
Katina Paxinou e Claudia Cardinale

(02)
O LEOPARDO
Il Gattopardo (1963)
de Luchino Visconti
Com Burt Lancaster, Claudia Cardinale e Pierre Clémenti

(03)
O CÍRCULO VERMELHO
Le Cercle Rouge (1970)
de Jean-Pierre Melville
Com Gian-Maria Volonté, Yves Montand e François Périer

(04)
A PRIMEIRA NOITE DE TRANQUILIDADE
La Prima Notte di Quiete (1972)
de Valerio Zurlini
Com Lea Massari, Giancarlo Giannini,
Renato Salvatori e Alida Valli

(05)
O SAMURAI
Le Samouraï (1967)
de Jean-Pierre Melville
Com François Périer e Nathalie Delon

(06)
O SOL POR TESTEMUNHA
Plein Soleil (1960)
de René Clément
Com Maurice Ronet e Marie Laforêt

(07)
O ECLIPSE
L’Eclisse (1962)
de Michelangelo Antonioni
Com Monica Vitti e Francisco Rabal

(08)
CIDADÃO KLEIN
Mr. Klein (1976)
de Joseph Losey
Com Jeanne Moreau, Suzanne Flon e Massimo Girotti

(09)
GANGSTERS DE CASACA
Mélodie en Sous-sol (1963)
de Henri Verneuil
Com Jean Gabin e Viviane Romance

(10)
A PISCINA
La Piscine (1969)
de Jacques Deray
Com Romy Schneider, Maurice Ronet e Jane Birkin


17 de agosto/2012
Revista Rio Total, CooJornal nº 780



Antonio Nahud Júnior, 
escritor, poeta,  jornalista e fotógrafo. 
RN
http://www.ofalcaomaltes.blogspot.com.br/



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