01/12/2024
Ano 27
Semana 1.393

 




Arquivo

Conversa

com o paciente

 

 


 

Ciúmes - Eta sentimento complicado!


Dr. Pedro Franco



Vale dizer que no dia a dia do consultório me deparo com pacientes com queixas de ciúmes. Conversava com um amigo trinta anos mais novo e foi comentado o ciúme de uma pessoa da idade dele, que não gostou de ver um retrato da atual namorada no colo de um amigo em um destes sites da vida. E pediu para a namorada tirá-lo da internet. Diga-se que a foto foi tirada muito antes do início do atual namoro. E o amigo, com quem conversava, julgou o pedido uma bobeira. Que mal tem? Pode não ter mal, mas estou inteiramente de acordo com o pedido do namorado. E vão dizer que ciúme é sinal de falta de segurança, prova de fraqueza, que é melhor ir a um psiquiatra, Deus me livre de relacionar-me com um homem assim, isto é doença etc, etc. De fato o ciúme está em queda, queda livre, mas também há outra queda livre, a do amor, ao menos como foi concebido anteriormente. E o “remake” do amor, ao ver dos meus antigos olhos, não está fazendo sucesso (tanta palavra bonita na Língua e o cara escreve “remake” – quer ser moderninho). E os relacionamentos custam a se firmar, lares custam a ser construídos e tome divórcios, separações e divãs de psiquiatras ocupados e psicólogos tentando consertar desacertos. Sofrem marido, mulher e filhos. É a remontagem do amor. Bom para estes profissionais da área da saúde mental e para determinada indústria farmacêutica. Volto ao ciúme e de antemão defendo que no verdadeiro amor pode, ouso dizer, deve ocorrer uma pitada de ciúmes. E vamos logo a uma divisão. Ciúme saudável e ciúme doentio. Há ciúme saudável? - perguntarão alguns céticos no assunto. A meu ver, há. É uma espécie de terno cuidado, uma espécie de discreta posse amorosa e o amado, por quem sofre com arte e moderação esta espécie de ciúme, pode reclamar até, mas no fundo da alma, como se costumava dizer no passado, gosta, aprecia e já ouvi Beltrana contar que Fulano não gostava dela e apelava para uma constatação: – Nem tinha ciúmes de mim! Então se tivesse e não fosse exacerbado e ofensivo, ela gostaria, percebe-se. Na questão sexo masculino e feminino em relação aos ciúmes o vice-versa deve ser verdadeiro, cada um pode. Acredito que quem não sinta ciúmes, mesmo que ame, não deve fingi-lo, pois mentir no amor, fingir, pode matá-lo. Há machistas que nunca confessarão que são ciumentos, pois isto seria proclamar fraquezas, mostrar deméritos. Eu me garanto. E às vezes não se garante, não mostra na hora e depois Ignez é morta e a relação foi para o vinagre. E na bolsa do amor as ações são mais voláteis, que nas bolsas de valores, por mais que isto possa parecer absurdo. Quantos e quantos fatores estão envolvidos no amor, que pode crescer, alterar-se em relação não a intensidade, mas na luta do dia a dia, dificilmente estagnar-se, ou mesmo acabar. Quem se garante inteiramente no amor? Quem? O amor pode se findar com ou sem demonstrações de ciúmes, é até possível, mas muitas vezes a demonstração civilizada e cabível de ciúmes, delimita até onde determinados fatos são aceitos pelo companheiro (a). Vamos a um exemplo prático, perante o qual há duas alternativas. A mulher usa roupas ousadas demais, digamos nos decotes, ou nas minissaias. O companheiro se importa, ou não se importa. Uns dizem que o que é bonito é para mostrar e até sente vaidade se outros olham a amada. Existem os que pedem mais recato e tentam preservar tesouros de olhos indiscretos. Quem está certo? Não é questão de estar certo, ou errado, pois é uma concepção pessoal e aceitando, ou não, pode haver amor nas duas vertentes. Se não estiver confortável para uma das partes, há que dizer e de forma sincera e educada. Talvez ocorram atritos, mas determinados atritos são indispensáveis no início da vida a dois e volto ao vice-versa. Que a mulher estabeleça também o que não gosta, idem o homem. Deixar as situações desconfortáveis para um depois, podem virar situações bilateralmente desagradáveis para dois. E os ciúmes como entram nesta história? Como vilão, ou como perfume. Cada dois vão ter que se aproximar e cuidar até deste sentimento, desde que ele não seja doentio, pegajoso, duvidoso, permanente e traga desarmonia. E muitas vezes determinados ciúmes, se não enfermiços, podem servir de parâmetros para nada de mais sério ser tentado, porque as condutas não são coerentes para um dos dois. Discuti com quem comentava no início da crônica os ciúmes do terceiro? Não. Ruminei ideias e vim ao teclado, para um Conversa um pouco diferente, se a gentil Editora aceitar. Se depois, me der na veneta, mando cópia desta arenga, que implicou com um determinado ciúme. Partindo do princípio e confessado que sou ciumento, meus argumentos serão contestados, e como!

Pedro Franco é médico cardiologista
RJ
pdaf35@gmail.com

 

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Direção e Editoria
Irene Serra