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Ciúmes - Eta sentimento complicado!
Dr. Pedro Franco
Vale dizer que no dia a dia do
consultório me deparo com pacientes com queixas de ciúmes. Conversava com um
amigo trinta anos mais novo e foi comentado o ciúme de uma pessoa da idade dele,
que não gostou de ver um retrato da atual namorada no colo de um amigo em um destes
sites da vida. E pediu para a namorada tirá-lo da internet. Diga-se que a foto
foi tirada muito antes do início do atual namoro. E o amigo, com quem
conversava, julgou o pedido uma bobeira. Que mal tem? Pode não ter mal, mas
estou inteiramente de acordo com o pedido do namorado. E vão dizer que ciúme é
sinal de falta de segurança, prova de fraqueza, que é melhor ir a um psiquiatra,
Deus me livre de relacionar-me com um homem assim, isto é doença etc, etc. De
fato o ciúme está em queda, queda livre, mas também há outra queda livre, a do
amor, ao menos como foi concebido anteriormente. E o “remake” do amor, ao ver
dos meus antigos olhos, não está fazendo sucesso (tanta palavra bonita na Língua
e o cara escreve “remake” – quer ser moderninho). E os relacionamentos custam a
se firmar, lares custam a ser construídos e tome divórcios, separações e divãs
de psiquiatras ocupados e psicólogos tentando consertar desacertos. Sofrem
marido, mulher e filhos. É a remontagem do amor. Bom para estes profissionais da
área da saúde mental e para determinada indústria farmacêutica. Volto ao ciúme e
de antemão defendo que no verdadeiro amor pode, ouso dizer, deve ocorrer uma
pitada de ciúmes. E vamos logo a uma divisão. Ciúme saudável e ciúme doentio. Há
ciúme saudável? - perguntarão alguns céticos no assunto. A meu ver, há. É uma
espécie de terno cuidado, uma espécie de discreta posse amorosa e o amado, por
quem sofre com arte e moderação esta espécie de ciúme, pode reclamar até, mas no
fundo da alma, como se costumava dizer no passado, gosta, aprecia e já ouvi
Beltrana contar que Fulano não gostava dela e apelava para uma constatação: –
Nem tinha ciúmes de mim! Então se tivesse e não fosse exacerbado e ofensivo, ela
gostaria, percebe-se. Na questão sexo masculino e feminino em relação aos ciúmes
o vice-versa deve ser verdadeiro, cada um pode. Acredito que quem não sinta
ciúmes, mesmo que ame, não deve fingi-lo, pois mentir no amor, fingir, pode
matá-lo. Há machistas que nunca confessarão que são ciumentos, pois isto seria
proclamar fraquezas, mostrar deméritos. Eu me garanto. E às vezes não se
garante, não mostra na hora e depois Ignez é morta e a relação foi para o
vinagre. E na bolsa do amor as ações são mais voláteis, que nas bolsas de
valores, por mais que isto possa parecer absurdo. Quantos e quantos fatores
estão envolvidos no amor, que pode crescer, alterar-se em relação não a
intensidade, mas na luta do dia a dia, dificilmente estagnar-se, ou mesmo
acabar. Quem se garante inteiramente no amor? Quem? O amor pode se findar com ou
sem demonstrações de ciúmes, é até possível, mas muitas vezes a demonstração
civilizada e cabível de ciúmes, delimita até onde determinados fatos são aceitos
pelo companheiro (a). Vamos a um exemplo prático, perante o qual há duas
alternativas. A mulher usa roupas ousadas demais, digamos nos decotes, ou nas
minissaias. O companheiro se importa, ou não se importa. Uns dizem que o que é
bonito é para mostrar e até sente vaidade se outros olham a amada. Existem os
que pedem mais recato e tentam preservar tesouros de olhos indiscretos. Quem
está certo? Não é questão de estar certo, ou errado, pois é uma concepção
pessoal e aceitando, ou não, pode haver amor nas duas vertentes. Se não estiver
confortável para uma das partes, há que dizer e de forma sincera e educada.
Talvez ocorram atritos, mas determinados atritos são indispensáveis no início da
vida a dois e volto ao vice-versa. Que a mulher estabeleça também o que não
gosta, idem o homem. Deixar as situações desconfortáveis para um depois, podem
virar situações bilateralmente desagradáveis para dois. E os ciúmes como entram
nesta história? Como vilão, ou como perfume. Cada dois vão ter que se aproximar
e cuidar até deste sentimento, desde que ele não seja doentio, pegajoso,
duvidoso, permanente e traga desarmonia. E muitas vezes determinados ciúmes, se
não enfermiços, podem servir de parâmetros para nada de mais sério ser tentado,
porque as condutas não são coerentes para um dos dois. Discuti com quem
comentava no início da crônica os ciúmes do terceiro? Não. Ruminei ideias e vim
ao teclado, para um Conversa um pouco diferente, se a gentil Editora aceitar.
Se depois, me der na veneta, mando cópia desta arenga, que implicou com um
determinado ciúme. Partindo do princípio e confessado que sou ciumento, meus
argumentos serão contestados, e como!
Pedro Franco é médico cardiologista
RJ pdaf35@gmail.com
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Direção e Editoria
Irene Serra
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