16/10/2024
Ano 27
Semana 1.387

 




Arquivo

Conversa

com o paciente

 

 


 

A distensão gasosa


Dr. Pedro Franco



Olhem que com mais de sessenta e dois anos de formado e antes disto já passara como bolsista acadêmico do Estado pelos hospitais Getúlio Vargas e Miguel Couto, vou ao assunto título, sabendo que piso em gelo fino. Enfim, se forem leigos, não é ofensa ser leigo, não façam o diagnóstico de gases, se o próprio, ou parente, apresentar dor abdominal alta, ou torácica e, culpando os gases, não se encaminhar, ou ao parente, para exame médico. Só para exemplo, a referida dor pode ocorrer em vários acidentes cardíacos, enfarto do miocárdio e que precisam de atendimento em emergência. Feito o aviso, tipo alarme, vou contar história médica, com pesquisa publicada e nos meus tempos de Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, da UNI-RIO, onde fui professor de centenas de alunos, inclusive de filho e de neta. Minha expectativa era que gases podiam, além de dar sintomas, causar outras modificações orgânicas. Julgar é algo, só que, se provar, a ideia fica palatável. Então escolhi 31 alunos de Medicina, jovens, saudáveis, que passaram por exame médico rigoroso. No trabalho publicado em revista especializada os dados são apresentados e aqui ficam resumidos e sucintos. O trabalho nada tinha de extraordinário e um eletrocardiógrafo foi o único aparelho envolvido. Então jovem sadio, EKG (eletrocardiograma) com laudo de DLN (dentro dos limites da normalidade) e vários alunos, agora participantes do estudo, já tinham feito o curso comigo e comigo analisaram o próprio EKG. Os participantes bebiam dois copos de água mineral com gás, não gelada e com cuidado para não erutar. Novo EKG e em maioria os EKGs ficavam bem alterados, parecendo apresentar isquemia cardíaca, daí o susto destes alunos, que já sabiam ler EKGs. Dose de simeticona 125 mg, 1 comprimido então cada participante, esperava-se o efeito do antifisético e novo EKG era realizado, com volta ao normal, isto é, igual ao primeiro EKG e antes da gaseificação. Não cabe aqui discutir o que ocorreu e porque ocorreu. Então gases podem causar mal estar, dores abdominais e torácicas e até modificar eletrocardiogramas. Leitor, em caso destes sintomas, é preciso que, quem os padece, seja examinado por médico. Não dê simeticona e espere o efeito. Podem não ser gases e se perdeu precioso tempo para tratar grave enfermidade cardíaca. E o por que desta conversa? Para enfatizar que gases abdominais podem causar problemas de saúde, OK?

“O coração na distensão gasosa”, artigo publicado na Folha Médica, Fomean/7 273, com a colaboração de três alunos de Medicina. O trabalho publicado pela Folha Médica se iniciava com a seguinte frase. “La vai a jiboia esmoer! Um dia estoura, depis de duma ceia de peixe. Nunca fora querido das devotas: arrotava no confessionário. Eça de Queiroz.

Pedro Franco é médico cardiologista
RJ
pdaf35@gmail.com

 

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Direção e Editoria
Irene Serra