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Receitar
Dr. Pedro Franco
A
vizinha, ou a comadre, deu-se bem com determinado medicamento e lhe passou a
receita. Você agradeceu, tudo bem, comprou e tomou, muito mal. E havia
contraindicação no seu caso para aquela droga e você, doente, piorou. Se tivesse
procurado quem de direito, o médico, podia estar curada. Coloco, pois, na minha
experiência: mulheres que se tratam mais e melhor têm menos ouvidos para
as recomendações da vizinha. E há pessoas, face aos seus padecimentos, que só
falam nos mesmos; e se existem pacientes, o número de comadres bem-intencionadas
se põe em ação e medica e com a melhor dos intensões. E você está de fato
desesperado com dor e procura, como tábua de salvação, o Dr. Google. Se falei
sem elogiar a comadre “receitadora”, posso elogiar o Google para muitos
assuntos, só que pode indicar remédios errados, visto que é maquina, não a
examinou, não fez curso de Medicina e foi induzido a uma resposta para a qual
não foi criado E se citei o Google é porque muito me louvo nele, em assuntos não
médicos. Simplificando muito, ficamos assim: sintoma, exame médico,
interpretação do sintoma, pedido, ou não, de exames, diagnóstico, tratamento
clínico, ou cirúrgico, se no papel fica simplificado, na realidade pode ser
assim simples e pode ser complicadíssimo; e muitas vezes o padecimento é tão
complicado, que várias especialidades médicas são arroladas. Nem a comadre, nem
o Google, tem as necessárias e indispensáveis funções. "O autor da coluna está
sem assunto e vem com chovendo no molhado." O leitor pode pensar assim, só que
com mais de 62 anos de consultório, raro é o dia em que não vejo alguém,
despreparado, receitar para um paciente antes que ele chegasse às minhas mãos. E
pior que não curar, é prejudicar o paciente. Com a intrusão leiga, indicou-se
remédio prejudicial, às vezes contraindicado mesmo e... fiquemos por aqui, já
que a intensão era boa. Há dito popular aplicável aqui. De boas intenções o
inferno está cheio. Comadres, perdoem-me, sei a intenção era a melhor possível,
O que seria mais racional e muito útil era levar a comadre até o médico, ou a
serviço médico de urgência.
Pedro Franco é médico cardiologista
RJ pdaf35@gmail.com
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Direção e Editoria
Irene Serra
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