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Pacientes, sempre pacientes e médicos
leigos

Dr. Pedro Franco
E que pacientes
tenham paciência e às vezes até resignação. Depois destes muitos anos de
Medicina, velhos médicos podem aquilatar como ser médico mudou. Machado de
Assis perguntava se foi ele quem mudou, ou foram os Natais. Em relação à
Medicina para pacientes e médicos, como ocorreram mudanças! Conto algo que
peguei, mas peguei no fim. Chamados domiciliares eram corriqueiros para os das
classes média e abastada. Hora marcada, alguns familiares tinham chegado e o
número variava também em relação à fortuna do paciente. Estou desvirtuando a
Conversa, ou a tornando áspera. Se há coisa áspera é a vida. Volto à consulta
domiciliar. Ao fim desta, de acordo com o gosto do médico, um cálice de vinho do
porto, ou cafezinho. Antes do líquido o médico fora convidado a lavar as mãos.
Toalha não usada, idem sabonete não usado. Era assim e havia um ritual. Depois,
expor aos familiares o estado de saúde do paciente e mostrando os caminhos
terapêuticos possíveis. E em número as consultas domiciliares escassearam e foi
avanço. Que exames tem um médico no domicílio, para chegar ao diagnóstico?
Cardiologistas carregam o eletrocardiógrafo e, mesmo assim, outros exames podem
ser necessários para fechar um diagnóstico. Volto a imponente liturgia do
atendimento domiciliar. E lhes conto, para mostrar como a Medicina evoluiu. Não
havia CTI e os pacientes com enfarto do miocárdio, mesmo logo após o
diagnóstico, ficavam sendo tratados nos domicílios. Pasmem, não havia
ecocardiogramas e como foi notável poder ter conhecimento do que o exame passou
a mostrar. Riscos cirúrgicos, hoje indispensáveis, não havia. Tomografias,
contrastes, nada. Semiologia e olhe lá. Havia sim as mesas redondas de médicos
para estudar casos complicados em paciente de posses. Seu doutor, às vezes de
pouco saber, era acarinhado pela sociedade. Ser, por exemplo, filho do Dr.
Fulano de Tal era apresentação de respeito. Que médico não usava um anel de
esmeralda? Em determinados casos famílias se cotizaram para dar a joia ao
recém-formado. Ter na família um médico, era abrir portas. E o arsenal
terapêutico era paupérrimo. Então que se concluiu desta colcha de retalhos? Que
o médico era socialmente mais importante, ainda que hoje sua ciência médica seja
mais salvadora de vidas. Toalha não usada, sabonete novo, saído da embalagem na
hora do uso, no melhor banheiro da casa e cálice de vinho porto! Confesso que
preferia cafezinho. Sente falta dos rapapés? Nadinha, só não aprecio é esperar
muito para ser atendido por colega e saber que tenho que falar pouco, pois as
consultas devem ser rápidas e colegas necessitam que pergunte menos e
principalmente que não conte casos antigos. Por falar em antigo, os pagamentos
vinham em envelopes e não fosse o bom doutor conferir notas. Só que os médicos
de agora salvam mais e a Medicina como ciência não para de crescer. Agora
cuidado com o que preconiza o Dr. Google e até receita. E, confesso, ser
professor foi ótimo e até para filho e neta. Bons tempos e lhes conto até nestas
nossas conversas, editadas pela Irene Serra. Vale dizer e especialmente à
Editora que remédios devem ser tomados nos horários preconizados e nunca podem
ser esquecidos. O aviso vale para todos, incluindo pacientes.
Pedro Franco é médico cardiologista
RJ pdaf35@gmail.com
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Direção e Editoria
Irene Serra
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