01/09/2024
Ano 27
Semana 1.381

 




Arquivo

Conversa

com o paciente

 

 


 

Pacientes, sempre pacientes e médicos leigos


Dr. Pedro Franco



E que pacientes tenham paciência e às vezes até resignação. Depois destes muitos anos de Medicina, velhos médicos podem aquilatar como ser médico mudou. Machado de Assis perguntava se foi ele quem mudou, ou foram os Natais. Em relação à Medicina para pacientes e médicos, como ocorreram mudanças! Conto algo que peguei, mas peguei no fim. Chamados domiciliares eram corriqueiros para os das classes média e abastada. Hora marcada, alguns familiares tinham chegado e o número variava também em relação à fortuna do paciente. Estou desvirtuando a Conversa, ou a tornando áspera. Se há coisa áspera é a vida. Volto à consulta domiciliar. Ao fim desta, de acordo com o gosto do médico, um cálice de vinho do porto, ou cafezinho. Antes do líquido o médico fora convidado a lavar as mãos. Toalha não usada, idem sabonete não usado. Era assim e havia um ritual. Depois, expor aos familiares o estado de saúde do paciente e mostrando os caminhos terapêuticos possíveis. E em número as consultas domiciliares escassearam e foi avanço. Que exames tem um médico no domicílio, para chegar ao diagnóstico? Cardiologistas carregam o eletrocardiógrafo e, mesmo assim, outros exames podem ser necessários para fechar um diagnóstico. Volto a imponente liturgia do atendimento domiciliar. E lhes conto, para mostrar como a Medicina evoluiu. Não havia CTI e os pacientes com enfarto do miocárdio, mesmo logo após o diagnóstico, ficavam sendo tratados nos domicílios. Pasmem, não havia ecocardiogramas e como foi notável poder ter conhecimento do que o exame passou a mostrar. Riscos cirúrgicos, hoje indispensáveis, não havia. Tomografias, contrastes, nada. Semiologia e olhe lá. Havia sim as mesas redondas de médicos para estudar casos complicados em paciente de posses. Seu doutor, às vezes de pouco saber, era acarinhado pela sociedade. Ser, por exemplo, filho do Dr. Fulano de Tal era apresentação de respeito. Que médico não usava um anel de esmeralda? Em determinados casos famílias se cotizaram para dar a joia ao recém-formado. Ter na família um médico, era abrir portas. E o arsenal terapêutico era paupérrimo. Então que se concluiu desta colcha de retalhos? Que o médico era socialmente mais importante, ainda que hoje sua ciência médica seja mais salvadora de vidas. Toalha não usada, sabonete novo, saído da embalagem na hora do uso, no melhor banheiro da casa e cálice de vinho porto! Confesso que preferia cafezinho. Sente falta dos rapapés? Nadinha, só não aprecio é esperar muito para ser atendido por colega e saber que tenho que falar pouco, pois as consultas devem ser rápidas e colegas necessitam que pergunte menos e principalmente que não conte casos antigos. Por falar em antigo, os pagamentos vinham em envelopes e não fosse o bom doutor conferir notas. Só que os médicos de agora salvam mais e a Medicina como ciência não para de crescer. Agora cuidado com o que preconiza o Dr. Google e até receita. E, confesso, ser professor foi ótimo e até para filho e neta. Bons tempos e lhes conto até nestas nossas conversas, editadas pela Irene Serra. Vale dizer e especialmente à Editora que remédios devem ser tomados nos horários preconizados e nunca podem ser esquecidos. O aviso vale para todos, incluindo pacientes.
 

Pedro Franco é médico cardiologista
RJ
pdaf35@gmail.com

 

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Direção e Editoria
Irene Serra