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Acompanhante II

Dr. Pedro Franco
Volto ao assunto com base em
atendimento recente e com cliente antiga. Vale asseverar que com mais de
vinte anos sendo minha paciente, conheço-a bem. E admiro. Parêntese.
Paciente é termo bem concebido. Há que ter paciência para aceitar a correria
atual e enfermidades. A Medicina avança sendo ciência e regride como arte. A
primeira vem dos livros, a segunda do trato médico paciente. Ótimos e
reveladores exames, esclarecedores, só que a chegada dos mesmos às mãos dos
doutores, devem ser regadas por tempo, explicações e calor humano, que em
consultas de 10 minutos não ocorrem. Enfim, qualquer dos três itens demandam
tempo de consulta. Crítica a colegas? Debito os defeitos mais à Sociedade,
que impõe que médicos tenham velocidade e muita produção. E não é só no
Brasil que clientes reclamam de correrias e tenho exemplos made in usa. Lá
como cá, pressas há e mais até. E o título falava em acompanhante, digitou
sobre antiga paciente e a deixou no limbo. Desculpe-me Dona I. E há anos que
a trato e temos ótima relação médico-paciente. Médico e paciente envelhecem
e entra a filha nas consultas, até porque Dona I passou dos oitenta e
caminha com dificuldade. Há assaltos, idosos são vítimas preferencias e a
vinda da filha se impõe. Filha chegando aos sessenta anos, culta, antenada,
só que sem jogo de cintura. Jogo de cintura? Resumo. Quer pensar pela mãe. São de gerações diferentes e ambas sabem o que querem. Há amizade, só que
não sintonia. Culpa de quem? Não me venham dizer que na vida não há culpas.
Só desculpas. Culpas das duas, só que no da filha batem 90% e deixo Dona I
com 10%. A filha tem que se imiscuir na vida da mãe com amor e
principalmente sabedoria. Que não tente reeducar a mãe e de acordo com suas
convicções, já que Dona I tem as dela e não é octogenária que vai virar
outra pessoa. Posição complicada a da filha e, muitas vezes, médicos, mesmo
em consultório, têm que agir também com profissionalismo, entendimento dos
pontos de vista do paciente, para atingir o bem maior, cuidar da saúde do
paciente. Verdadeiro jogo de xadrez, dar um peão, visando chegar ao xeque-mate. A saúde do paciente. Para tanto, haja tempo! E filhos, acompanhante,
amigos, evitem imposições e tenham tempo, paciência e experiências de vida,
lembrando-se sempre dos parâmetros da pessoa com quem lida. Estou propondo
acompanhantes super heróis? Alguns, reconheço, têm que ser e não adianta
gritar Shazam!!! Citando grito do Capitão Marvel, mostro idade? E quem disse
que a quero esconder. Enfim acompanhante, a fórmula mágica é amor e
paciência. Viver é ter paciência com os fados da vida.
Pedro Franco é médico cardiologista
RJ pdaf35@gmail.com
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Direção e Editoria
Irene Serra
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