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Depressão. Estamos em 2023

Dr. Pedro Franco
“Tenho certeza de que, quando entrar hoje no consultório e sou
cardiologista, atenderei vários pacientes com sintomas de depressão.”
Vou abordar problema, médico e social, que tenho visto
crescer no dia a dia da vida médica: quadros de depressão psíquica. Escolho
o tema, porque pessoas podem ser mal encaminhadas e a enfermidade está
aumentando de incidência. Quando se solicita o parecer de um Psiquiatra, o
paciente, ou seu familiar, às vezes se abespinham e pode-se ouvir. - Eu não
estou maluco, Doutor! Ou. - Papai não está maluco! Disto tenho certeza e,
quando a depressão é leve, isto é, está em fase inicial, um clínico, um
cardiologista, podem até enfrentá-la. Quando atingiu determinado nível de
aprofundamento, ou está mascarada, é necessário recorrer ao médico
especialista, porque os quadros podem ser graves e caminhar para soluções
fatais, se não tratados. Outra má interpretação é tentar vencer a doença,
não com medicamentos antidepressivos e sim com alternativas diversas, e uma
delas é. - Vou levar papai para a Paris e ele volta bom! O Doutor vai ver!
Nem Paris, nem Gramado, nem o Encantado curam depressão. Depressão é
carência de determinados neurotransmissores no organismo. O "Bois de
Boulogne", ou o "Les Deux Magots", ou “O Bar da Eva” no Grajaú,
infelizmente, não têm a propriedade de fazer aumentar estas substâncias no
sistema nervoso do modo desejado. Só medicamentos conseguem este efeito no
necessário prazo. Depois se pode tentar tratar mais profundamente as causas
da depressão. Na fase aguda é enfermidade, como outras, que necessita de
remédios e prescritos de forma correta, com acompanhamento constante. O
início do tratamento costuma ser difícil, mesmo para os especialistas mais
experientes e para os enfermos menos dóceis. O binômio médico/paciente deve,
precisa, funcionar de forma harmônica, com familiares atentos e ajudando
constantemente os dois, paciente e médico. Ajudando e não atrapalhando,
enfatizo este aspecto. E por que há mais casos de depressão no momento? É
assunto controvertido. Na visão simplória de um cardiologista, três motivos
sobressaem. 1º) vive-se mais. A meia vida das populações aumenta e temos
mais idosos. Se há mais idosos, pensa-se na morte e em doenças e o número de
aposentados cresce (se a aposentadoria não for bem equacionada, pode ser
malefício permanente, ao invés de prêmio) e muitas vezes ficam aposentados
com salários baixos e congelados, o que não acontece com determinados
idosos. Oh, sorte destes; 2º) os meios de comunicação, como a televisão e
suas redes em destaque, mostram que se pode viver melhor, com mais
distrações, com mais conforto e nem sempre estas melhorias são conseguidas
nestes tempos financeiramente difíceis, onde os salários são menores que os
dias do mês e os remédios são onerosos. Faltam reais aos idosos e a
assistência onera em excesso, havendo proventos de aposentadorias que
parecem castigos. Não creiam que enfatizo os aspectos de modo desnecessário;
já que converso com aposentados no dia a dia; 3º) a vida moderna está mais
conflitada, violenta, preocupante, o romantismo cai, as separações aumentam,
as ligações familiares se fragmentam, a impaciência e o egoísmo campeiam e a
política se deteriora. Enfim ocorre uma acomodação social, com suas naturais
complicações, acrescida do novo fenômeno que é a semiglobalização do mundo.
E este somatório de fatores faz aumentar a prevalência das depressões
psíquicas, mascaradas, ou não. Assim, quando o médico faz o diagnóstico e
trata, ou envia o paciente ao Psiquiatra, não há motivo para pensar em
loucura, ou em encaminhamento indevido. E que a família tenha juízo e ajude
o médico. Depressão mal orientada pode levar ao suicídio, ainda que
raramente e, mesmo se este fato extremo não ocorre, é fase terrível da vida
de cada paciente. Todos precisam ajudá-lo, entendê-lo, dando-lhe todo o
auxílio que a Medicina e a Família podem proporcionar. E enquanto é tempo.
Só faltou deixar algo alvissareiro nesta crônica. Tenho constatado a volta
de muitos indivíduos deprimidos à vida normal e à felicidade, após esta fase
cinza de suas vidas (o cinza no caso nada tem com livros de alta tiragem,
que andam encantando incautos). Enfatizo que só se consegue este promissor
resultado, a cura da depressão, com tratamentos e encaminhados dentro da
mais moderna técnica médica. Constato que a Neurologia, aproximando-se da
Psiquiatria, tem sido acionada e com bons resultados para as depressões.
Ainda que a regra médica não confunda as especialidades. Psicólogos podem
ser acionados, especialmente quando a fase aguda, medicamentosa, foi
vencida, ou que a Psiquiatria julgou o memento adequado para o apoio
psicológico.
Pedro Franco é médico cardiologista
RJ pdaf35@gmail.com
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Direção e Editoria
Irene Serra
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