01/10/2023
Ano 26
Semana 1.337

 




Arquivo

Conversa

com o paciente



 

 


 

O eletrocardiograma e a paciente de primeira vez



Dr. Pedro Franco

Foi este exame que me trouxe à Medicina. Em regra se escolhe uma carreira em idade precoce e nem sempre o tempo aplaude a escolha. Comecei vestibular de Engenharia, parei por ter me empregado na Caixa Econômica Federal e tive que estudar datilografia e assuntos relacionados ao emprego. Só que queria me formar e na CEF só lidava com números e com eles sonhava. E havia um abismo insondável chamado análise combinatória no caminho vestibular de Engenharia. Que fazer? Primo mais velho, a quem muito devo, general e médico, com um graveto e rabiscando o chão de Barão de Javary, apresentou-me ao exame inventado pelo gênio Willen Einthoven em 1901 e que lhe deu o Nobel de Medicina em 1925. Então o primo Jayme Graça me apresentou a eletrocardiografia e o exame me levou à Medicina. O primo foi meu professor de Física no vestibular e durante toda a minha vida me orientou. No meu currículo há cerca de 60 cursos, que ministrei sobre o tema. Logicamente ao eletrocardiograma devo muitos acontecimentos médicos e o que conto serve para mostrar como desinformação prejudica o binômio paciente médico. Para se fazer o exame, se usa pôr eletródios nos braço, perna esquerda e em 6 locais do lado esquerdo do tórax. Ainda neste ano da graça, 2023, atendo paciente de primeira vez. Faço a anamnese, meço a pressão arterial, peso, a paciente coloca o jaleco, deita-se e começo a colocar os eletródios. Ouço; Posso fazer uma pergunta? Pode. Por que é o Senhor a fazer o eletrocardiograma e não sua atendente? Ainda que não fosse indagação usual, a pergunta era cabível. De fato em muitos consultórios é a atendente que faz o exame, só que o EKG só deve ser feito, por quem sabe ler o traçado. Durante a feitura do mesmo o médico o vai lendo, há manobras especiais, como inspirar, correr mais papel em determinada derivações e são recursos que as atendentes não podem fazer, que não sabem ler eletrocardiogramas. Usualmente meu curso básico de eletrocardiografia tem dezesseis aulas e os alunos ficam apenas com noções do exame. De fato, de início a eletrocardiografia é exame complicado, ainda que dê um número de respostas que qualquer outro exame não apresenta. A vantagem de tornar as consultas mais rápidas, levam as atendentes em alguns consultórios a realizá-los. Depois desta explicação ouvi. Não concordo e não volto mais aqui. Fomos até o fim da consulta e sem outros comentários. O resultado do eletrocardiograma foi dentro dos limites da normalidade e se não voltava mais, foi entregue logo a paciente. Por que trago este caso extraordinário ao Conversa com o paciente? Para valorizar o exame e asseverar que o ideal é que, quem o realize, saiba ler o traçado e durante a execução. E que se faça por cada paciente o melhor que se possa fazer, apesar das raras questiúnculas, decorrentes de desinformação.


Pedro Franco é médico cardiologista
RJ
pdaf35@gmail.com

 

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Direção e Editoria
Irene Serra