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O eletrocardiograma e a paciente de
primeira vez

Dr. Pedro Franco
Foi este exame que me trouxe à Medicina. Em regra se escolhe
uma carreira em idade precoce e nem sempre o tempo aplaude a escolha.
Comecei vestibular de Engenharia, parei por ter me empregado na Caixa
Econômica Federal e tive que estudar datilografia e assuntos relacionados ao
emprego. Só que queria me formar e na CEF só lidava com números e com eles
sonhava. E havia um abismo insondável chamado análise combinatória no
caminho vestibular de Engenharia. Que fazer? Primo mais velho, a quem muito
devo, general e médico, com um graveto e rabiscando o chão de Barão de
Javary, apresentou-me ao exame inventado pelo gênio Willen Einthoven em 1901
e que lhe deu o Nobel de Medicina em 1925. Então o primo Jayme Graça me
apresentou a eletrocardiografia e o exame me levou à Medicina. O primo foi
meu professor de Física no vestibular e durante toda a minha vida me
orientou. No meu currículo há cerca de 60 cursos, que ministrei sobre o
tema. Logicamente ao eletrocardiograma devo muitos acontecimentos médicos e
o que conto serve para mostrar como desinformação prejudica o binômio
paciente médico. Para se fazer o exame, se usa pôr eletródios nos braço,
perna esquerda e em 6 locais do lado esquerdo do tórax. Ainda neste ano da
graça, 2023, atendo paciente de primeira vez. Faço a anamnese, meço a
pressão arterial, peso, a paciente coloca o jaleco, deita-se e começo a
colocar os eletródios. Ouço; Posso fazer uma pergunta? Pode. Por que é o
Senhor a fazer o eletrocardiograma e não sua atendente? Ainda que não fosse
indagação usual, a pergunta era cabível. De fato em muitos consultórios é a
atendente que faz o exame, só que o EKG só deve ser feito, por quem sabe ler
o traçado. Durante a feitura do mesmo o médico o vai lendo, há manobras
especiais, como inspirar, correr mais papel em determinada derivações e são
recursos que as atendentes não podem fazer, que não sabem ler
eletrocardiogramas. Usualmente meu curso básico de eletrocardiografia tem
dezesseis aulas e os alunos ficam
apenas
com noções do exame. De fato, de
início a eletrocardiografia é exame complicado, ainda que dê um número de
respostas que qualquer outro exame não apresenta. A vantagem de tornar as
consultas mais rápidas, levam as atendentes em alguns consultórios a
realizá-los. Depois desta explicação ouvi. Não concordo e não volto mais
aqui. Fomos até o fim da consulta e sem outros comentários. O resultado do
eletrocardiograma foi dentro dos limites da normalidade e se não voltava
mais, foi entregue logo a paciente. Por que trago este caso extraordinário
ao Conversa com o paciente? Para valorizar o exame e asseverar que o ideal é
que, quem o realize, saiba ler o traçado e durante a execução. E que se faça
por cada paciente o melhor que se possa fazer, apesar das raras
questiúnculas, decorrentes de desinformação.
Pedro Franco é médico cardiologista
RJ pdaf35@gmail.com
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Direção e Editoria
Irene Serra
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