16/08/2023
Ano 26
Semana 1.330

 




Arquivo

Conversa

com o paciente



 

 


 

Pacientes incautos


Dr. Pedro Franco

Nesta época do politicamente correto se tenha cuidado com adjetivos e também com substantivos. Duas explicações, que julgo necessárias. Não vou me reportar a qualquer dos medicamentos milagrosos, recitados em alguns sites e coloco incautos apenas sem ofensa, porque entendo irem a soluções não preconizadas pela Ciência. E o paciente, ou parente de paciente, depara-se com enfermidades tristes, debilitantes e para exemplos Alzheimer e cegueira. A Medicina medica, só que não cura e sabe que não cura e mesmo nas entrelinhas avisa que pode contemporizar, talvez estabilizar, curar nunca. E pacientes e familiares passam a viver de forma diferente e nem preciso expor os males que enfermidades graves e que permitem longa vida, acarretam. Está cego, mas vive. Vive sem ver. Oh tristeza. Nestas ocorrências e várias causas podem levar à cegueira, aparece um remédio salvador, ainda que não aceito pela Ciência, pela Medicina. E o marketing dos citados medicamentos milagrosos tem concepção similar. O “script” tem variações, ainda que discretas. Alguém, muitas vezes um amoroso familiar, e os atores nada têm de canastrões, não se conforma com a enfermidade do parente e sai a pesquisar. Há nebuloso trabalho em universidade pouco conhecida. Partem daquela “pesquisa” e aparece professor de nome bem estrangeiro, sempre de cabelos brancos e com decantada modéstia, mostra que é um gênio e descobriu a cura e aí todos os programas se nivelam, ao arrasar a indústria farmacêutica, que não produz sua brilhante descoberta, porque, em sua desmesurada ganância, perderia a venda dos ditos paliativos que produz. Nego-me a discutir os benefícios que os medicamentos, criados em pesquisas pela referida indústria, trazem-nos todos os dias. Aí de nós se não fosse a incessante pesquisa dos laboratórios farmacêuticos. Sendo comandados por homens, cometem erros, alguns deploráveis, só que no computo geral são benéficos e como! Volto ao remédio milagroso, com propaganda via canais da internet. Bem feitos, comunicativos, só que dão falsas esperanças e tratamentos são interrompidos, para o uso da panaceia. Se não aceito a empulhação, entendo que incautos, perante o desespero, agarrem-se àquela tábua, que parece ser a tábua da cura. Que aconselho? Levem a brilhante pesquisa ao seu médico de confiança. Se não o tem, lamento. Um último tópico, se o remédio funcionasse, um laboratório o produziria e rios de dólares cairiam em seus cofres. Agora, há que aceitar, como arte cinematográfica de ficção podiam concorrer ao Tio Oscar. Cuidado, Ciência é Ciência e contrariar seus ditames é dar capim à bicicleta. 


Pedro Franco é médico cardiologista
RJ
pdaf35@gmail.com

 

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Direção e Editoria
Irene Serra