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Dor de cotovelo

Dr. Pedro Franco
Trecho retirado da peça “Veio e Esteto”,
onde o autor conta sua vivência em hospital universitário. Desta parte do
primeiro ato participam o Professor, a Assistente Social Marília e a
paciente Rosa, que foi internada pela família em coma, recuperou-se e não é
visitada.
“Marília – Professor fui à residência, que estava na ficha
de Dona Rosa e não existia o endereço.
Dona Rosa – Por certo a menina
da recepção tomou o endereço errado e minha neta estava muito nervosa, pois,
como o Professor sabe, eu entrei em coma no Hospital e até desenganada.
Minha família é muito cuidadosa comigo. E aí voltei a mim e me lembrei do
meu endereço e a Marília foi lá. Rua Archias Cordeiro 151- 101. Quando eles
veem me apanhar?
O Professor corta a assistente social, que ia falar.
Professor. – A Assistente Social, Dona Marília, quis que déssemos juntos
a notícia à Sra. Seus parentes tiveram que viajar de repente e tão logo
possam, apanham a Senhora. Mandaram muitas saudades. E hospital não é bom
lugar para idosos morarem e assim a Marília vai arranjar um local, para Dona
Rosa ficar, até que seus familiares venham apanhá-la.
Dona Rosa _
Minhas preces foram atendidas, não fui jogada fora. Obrigada Minha Nossa
Senhora da Aparecida!
Dona Rosa se deita, a luz de A se apaga e os
dois profissionais saem da enfermaria e conversam.
Marília _
Professor, não concordo tecnicamente com sua opção, ainda que entenda. Somos
educadas para dizer de forma minimizada a verdade.
Prof. _ Concordo
inteiramente com você, Desculpo-me por cortá-la, só que preferi a exceção à
regra. Tecnicamente torno a pedir desculpas por tomar sua frente e omitir a
palavra asilo. Perdoe-me, mas não me arrependo nesse caso de fugir à regra.
Dona Rosa tem 89 anos, tem problemas crônicos cardíacos e não vai viver
muito. Então...
Marília sorri e sai abanando a cabeça. Zé Ramalho no
trecho “há tantas violetas velhas sem colibri” de “Chão de giz” é escutado e
a peça passa a novo quadro.
Termino a conversa, saindo da peça. Dor
de cotovelo, por ter sido abandonada pela família, deve ser das mais doídas.
Infelizmente ocorrem, como ocorrem muitos fatos relacionados a enfermos, que
não deviam ocorrer.
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Por que as dores de amores, ou
paixões, são chamadas de dores de cotovelo? Favor, não confunda amor com
paixão! Sei que várias cantoras estão trazendo às suas canções traições
sofridas e, o caso mais notório, pelo vulto da cantora, é o de Shakira, que
canta sua mágoa.
Enfrentara no ano pp um processo e até com possibilidade
de detenção. Imagine-se uma prisão e sabendo que Shakira do “Ojos asi” é
companheira de infortúnio. Não conhece Shakira? Melhor perguntado. Já viu a
colombiana dançando mais que cantando? Com todo o respeito, que molejo! Não
gosta desse tipo de música. Quem escreveu aqui sobre música? Estou me
reportando a conjunto de fatores, que vão ao palco e até as coxias, coxias,
leia bem, quando Shakira Isabel representa.
Vou citar algo, que vários não
concordam. A dança sensual tem limites, que não devem ser ultrapassados, se
não vão pecar pelo mau gosto. Ponha a carapuça em nacionais e
internacionais. Para sexo explicito, para quem gosta, há sites
especializados e até gratuitos, ainda que computadores e celulares corram o
risco de ataques viróticos.
Voltemos à Shakira, a sua sensualidade não
contida e de bom gosto. E chora traição, dor de cotovelo. Se já ouvi a
música? Não. Shakira, repito, é para apreciar, ver. Vai me chamar de velho
gagá. Nem sempre fui velho e já pensava da mesma maneira muito antes. E
salto de Shakira para Lupicínio Rodrigues. Salto tipo jogar-se de Acapulco
em mergulho esplendoroso. Já ouviu “Quem há de dizer” (pensei que fosse Dama
do Cabaret, mas esta é de Noel Rosa) na voz de Nelson Gonçalves. “Repare bem
que toda vez/ Que ela fala/ Ilumina mais a sala/ Do que a luz do refletor/ O
cabaré se inflama/ Quando ela dança/ E com a mesma esperança/ Todos lhe põem
o olhar./ E eu, o dono/ Aqui no meu abandono/ Espero morto de sono/ O cabaré
terminar”. E por aí vai. Lupicínio era bom de dor de cotovelo. De machismo
também e não vá o politicamente correto implicar com ele, como dedurou
Lamartine Babo com o “como sua cor não pega”. Volto a Lupicínio, de tango e
na voz de Cauby Peixoto. Cauby está contido e ótimo! È também música de
cotovelo, que em tango cabe bem. “Desta vez eu vou brigar com ela”, Vale
ouvir. Para ver, ainda fico com Shakira e seu belo cotovelo doído! E ficando
no tema, há a dor de cotovelo político. E como deve doer!
Pedro Franco é médico cardiologista
RJ pdaf35@gmail.com
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Direção e Editoria
Irene Serra
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