16/04/2023
Ano 25
Semana 1.316

 




Arquivo

Conversa

com o paciente

 


 

 

Dor de cotovelo




Dr. Pedro Franco


Trecho retirado da peça “Veio e Esteto”, onde o autor conta sua vivência em hospital universitário. Desta parte do primeiro ato participam o Professor, a Assistente Social Marília e a paciente Rosa, que foi internada pela família em coma, recuperou-se e não é visitada.

“Marília – Professor fui à residência, que estava na ficha de Dona Rosa e não existia o endereço.

Dona Rosa – Por certo a menina da recepção tomou o endereço errado e minha neta estava muito nervosa, pois, como o Professor sabe, eu entrei em coma no Hospital e até desenganada. Minha família é muito cuidadosa comigo. E aí voltei a mim e me lembrei do meu endereço e a Marília foi lá. Rua Archias Cordeiro 151- 101. Quando eles veem me apanhar?

O Professor corta a assistente social, que ia falar.

Professor. – A Assistente Social, Dona Marília, quis que déssemos juntos a notícia à Sra. Seus parentes tiveram que viajar de repente e tão logo possam, apanham a Senhora. Mandaram muitas saudades. E hospital não é bom lugar para idosos morarem e assim a Marília vai arranjar um local, para Dona Rosa ficar, até que seus familiares venham apanhá-la.

Dona Rosa _ Minhas preces foram atendidas, não fui jogada fora. Obrigada Minha Nossa Senhora da Aparecida!

Dona Rosa se deita, a luz de A se apaga e os dois profissionais saem da enfermaria e conversam.

Marília _ Professor, não concordo tecnicamente com sua opção, ainda que entenda. Somos educadas para dizer de forma minimizada a verdade.

Prof. _ Concordo inteiramente com você, Desculpo-me por cortá-la, só que preferi a exceção à regra. Tecnicamente torno a pedir desculpas por tomar sua frente e omitir a palavra asilo. Perdoe-me, mas não me arrependo nesse caso de fugir à regra. Dona Rosa tem 89 anos, tem problemas crônicos cardíacos e não vai viver muito. Então...

Marília sorri e sai abanando a cabeça. Zé Ramalho no trecho “há tantas violetas velhas sem colibri” de “Chão de giz” é escutado e a peça passa a novo quadro.

Termino a conversa, saindo da peça. Dor de cotovelo, por ter sido abandonada pela família, deve ser das mais doídas. Infelizmente ocorrem, como ocorrem muitos fatos relacionados a enfermos, que não deviam ocorrer.

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Por que as dores de amores, ou paixões, são chamadas de dores de cotovelo? Favor, não confunda amor com paixão! Sei que várias cantoras estão trazendo às suas canções traições sofridas e, o caso mais notório, pelo vulto da cantora, é o de Shakira, que canta sua mágoa.

Enfrentara no ano pp um processo e até com possibilidade de detenção. Imagine-se uma prisão e sabendo que Shakira do “Ojos asi” é companheira de infortúnio. Não conhece Shakira? Melhor perguntado. Já viu a colombiana dançando mais que cantando? Com todo o respeito, que molejo! Não gosta desse tipo de música. Quem escreveu aqui sobre música? Estou me reportando a conjunto de fatores, que vão ao palco e até as coxias, coxias, leia bem, quando Shakira Isabel representa.

Vou citar algo, que vários não concordam. A dança sensual tem limites, que não devem ser ultrapassados, se não vão pecar pelo mau gosto. Ponha a carapuça em nacionais e internacionais. Para sexo explicito, para quem gosta, há sites especializados e até gratuitos, ainda que computadores e celulares corram o risco de ataques viróticos.

Voltemos à Shakira, a sua sensualidade não contida e de bom gosto. E chora traição, dor de cotovelo. Se já ouvi a música? Não. Shakira, repito, é para apreciar, ver. Vai me chamar de velho gagá. Nem sempre fui velho e já pensava da mesma maneira muito antes. E salto de Shakira para Lupicínio Rodrigues. Salto tipo jogar-se de Acapulco em mergulho esplendoroso. Já ouviu “Quem há de dizer” (pensei que fosse Dama do Cabaret, mas esta é de Noel Rosa) na voz de Nelson Gonçalves. “Repare bem que toda vez/ Que ela fala/ Ilumina mais a sala/ Do que a luz do refletor/ O cabaré se inflama/ Quando ela dança/ E com a mesma esperança/ Todos lhe põem o olhar./ E eu, o dono/ Aqui no meu abandono/ Espero morto de sono/ O cabaré terminar”. E por aí vai. Lupicínio era bom de dor de cotovelo. De machismo também e não vá o politicamente correto implicar com ele, como dedurou Lamartine Babo com o “como sua cor não pega”. Volto a Lupicínio, de tango e na voz de Cauby Peixoto. Cauby está contido e ótimo! È também música de cotovelo, que em tango cabe bem. “Desta vez eu vou brigar com ela”, Vale ouvir. Para ver, ainda fico com Shakira e seu belo cotovelo doído! E ficando no tema, há a dor de cotovelo político. E como deve doer!


Pedro Franco é médico cardiologista
RJ
pdaf35@gmail.com

 

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Direção e Editoria
Irene Serra