01/07/2024
Ano 27
Semana 1.373

 




Arquivo

Conversa

com o paciente



 

 


 

Vide Celulares


Dr. Pedro Franco


O Globo, Saúde, 27/02/2024; David Richo, terapeuta, em livro, assevera: “cultivar a autoestima, as amizades e reservar tempo de qualidade (sem celular) a dois, são as chaves para uniões sólidas”.

E deixei no título vide celulares e vou a duas premissas e indispensáveis:
1 - é quase impossível viver sem celular. É instrumento que, bem usado, torna a vida mais fácil.
2 acredito que posso falar em união sólida e no dia 22/02/2024 completamos 66 anos de bem casados e temos ótima família e até bisnetos. Fiquemos em celulares. Nós gostávamos de jantar fora e os familiares e amigos se admiram que com 72 anos de convivência, nos conhecemos aos 16 anos, assuntos para conversarmos não faltavam. Vamos a restaurantes e vemos casais jovens entrarem para jantar e sem alguém para segurar vela. Lá vem velho com segurar vela e no nosso tempo, só que para dizer que no nosso tempo era pior. Sair sós para jantar, ainda que noivos, nunca. Exemplo, casados no civil na sexta e no sábado seria o religioso na Candelária e festão em clube. Após o almoço da sexta, já de papel passado casados, para juiz de paz, pais e padrinhos ocorreu lauto almoço. Então pensamos em pegar, sós e pela primeira vez, um cineminha sessão das quatro. Fomos avisados que sós não pegava bem. Brigar na véspera do casamento? Não, não fomos ao cinema. E ver um casalzinho entrar no restaurante, para jantar a dois! Comentamos como seria bom no nosso tempo poder jantar sós, ir ao cinema sós. O casalzinho se senta, faz os pedidos ao garçom. Ambos, ao mesmo tempo, como se ensaiados, abrem celulares e conversam com dedinhos. Entre eles nenhuma palavra. Parecem zangados? Não, parecem normais e, ao jeito deles, parecem estar curtindo a noite. Estão na mesa ao lado. Enfim vem a comida. Ela fala depois de algumas garfadas. Meu prato está gostoso. Ele responde. Meu filé está mais ou menos. E voltam aos celulares e só voltam a falar para pedir sobremesas. Não tomam café e se vão de mãos dadas. Sem comentários. O defeito não está nos celulares, nem para adultos e muito menos para crianças. E como o visto em celulares pode educar, ou, lamentavelmente, crianças podem entrar em contato com visões, para as quais não têm ainda preparo emocional. Não levar celulares a restaurantes não é recomendável, pois sempre podem ser úteis, só que a moça, ou o rapaz, ou casal de velhos, havia um em mesa perto, que também foram conversar via dedinhos e sem trocarem palavras. Drummond inventou aviões para levar passageiros e até um carregou artefato atômico. E ninguém vai ser contra aviões. O assunto reclamar do uso de celulares é notório e repetitivo. E quando o casalzinho entrou, pensamos no nosso tempo e de como teríamos curtido jantar sós e falarmos e falarmos. No amor sempre há assuntos, se na paixão tiverem cultivado afinidades, que até podem estar nos celulares, só que não só nos celulares. Tem certeza que esse assunto cabe em Conversa com o paciente? Acredito que sim e pais e mães regrem o uso de celulares para filhos. È difícil. E é muito. Só que educar é difícil e muitas vezes o não é obrigatório e o sim seria demagógico e deseducativo.


Pedro Franco é médico cardiologista
RJ
pdaf35@gmail.com

 

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Direção e Editoria
Irene Serra