|
Vide Celulares

Dr. Pedro Franco
O Globo, Saúde, 27/02/2024; David Richo,
terapeuta, em livro, assevera: “cultivar a autoestima, as amizades e reservar
tempo de qualidade (sem celular) a dois, são as chaves para uniões sólidas”.
E deixei no título vide celulares e vou a duas premissas e indispensáveis: 1 - é
quase impossível viver sem celular. É instrumento que, bem usado, torna a vida
mais fácil. 2 acredito que posso falar em união sólida e no dia 22/02/2024
completamos 66 anos de bem casados e temos ótima família e até bisnetos.
Fiquemos em celulares. Nós gostávamos de jantar fora e os familiares e amigos se
admiram que com 72 anos de convivência, nos conhecemos aos 16 anos, assuntos
para conversarmos não faltavam. Vamos a restaurantes e vemos casais jovens
entrarem para jantar e sem alguém para segurar vela. Lá vem velho com segurar
vela e no nosso tempo, só que para dizer que no nosso tempo era pior. Sair sós
para jantar, ainda que noivos, nunca. Exemplo, casados no civil na sexta e no
sábado seria o religioso na Candelária e festão em clube. Após o almoço da
sexta, já de papel passado casados, para juiz de paz, pais e padrinhos ocorreu
lauto almoço. Então pensamos em pegar, sós e pela primeira vez, um cineminha
sessão das quatro. Fomos avisados que sós não pegava bem. Brigar na véspera do
casamento? Não, não fomos ao cinema. E ver um casalzinho entrar no restaurante,
para jantar a dois! Comentamos como seria bom no nosso tempo poder jantar sós,
ir ao cinema sós. O casalzinho se senta, faz os pedidos ao garçom. Ambos, ao
mesmo tempo, como se ensaiados, abrem celulares e conversam com dedinhos. Entre
eles nenhuma palavra. Parecem zangados? Não, parecem normais e, ao jeito deles, parecem estar curtindo a noite. Estão na mesa ao lado. Enfim vem a comida. Ela
fala depois de algumas garfadas. Meu prato está gostoso. Ele responde. Meu filé
está mais ou menos. E voltam aos celulares e só voltam a falar para pedir
sobremesas. Não tomam café e se vão de mãos dadas. Sem comentários. O defeito
não está nos celulares, nem para adultos e muito menos para crianças. E como o
visto em celulares pode educar, ou, lamentavelmente, crianças podem entrar em
contato com visões, para as quais não têm ainda preparo emocional. Não levar
celulares a restaurantes não é recomendável, pois sempre podem ser úteis, só
que a moça, ou o rapaz, ou casal de velhos, havia um em mesa perto, que também
foram conversar via dedinhos e sem trocarem palavras. Drummond inventou aviões
para levar passageiros e até um carregou artefato atômico. E ninguém vai ser
contra aviões. O assunto reclamar do uso de celulares é notório e repetitivo. E
quando o casalzinho entrou, pensamos no nosso tempo e de como teríamos curtido
jantar sós e falarmos e falarmos. No amor sempre há assuntos, se na paixão
tiverem cultivado afinidades, que até podem estar nos celulares, só que não só
nos celulares. Tem certeza que esse assunto cabe em Conversa com o paciente?
Acredito que sim e pais e mães regrem o uso de celulares para filhos. È difícil.
E é muito. Só que educar é difícil e muitas vezes o não é obrigatório e o sim
seria demagógico e deseducativo.
Pedro Franco é médico cardiologista
RJ pdaf35@gmail.com
__________________________
Direção e Editoria
Irene Serra
|