16/10/2022
Ano 25
Semana 1.292

 




Arquivo

Conversa

com o paciente



 

 


 

Atenção para as receitas médicas


Dr. Pedro Franco



Quanto tempo um paciente deve tomar um determinado medicamento? Mesmo quando dizem o nome do produto, respondo que, sem examinar o doente, não sei. E só uma pessoa saberá a resposta com rigorosidade — o médico-assistente. E encontramos pacientes que repetem uma receita indefinidamente, ou, após dois ou três dias e observando uma melhora clínica, sustam a medicação. Agiram por conta própria e risco, nas ditas eventualidades. Fico tentado a exemplificar/ pormenorizadamente, com corticoides, antibióticos ou digitais, mas, pela periculosidade gerada pela veiculação de assuntos médicos, em publicação não especializada, deixo de citar remédios especificamente, valendo o assunto como tese. Temo sempre interferir em um tratamento, bem orientado, embora terapeuticamente excepcional, com a alusão ao emprego usual de determinado fármaco. Quem escreve sobre assuntos médicos para o grande público, deve ter alguns cuidados e finalidades, como:

1) não atrapalhar nenhum colega, que esteja se conduzindo bem, perante um difícil caso ("La Medicine c'est comme I'amour, ni jamais, ni toujours") e escolheu caminhos não trilhados rotineiramente, pois a situação assim exigia;

2) valorizar, sempre, a posição dos médicos assistentes, especialistas ou não;

3) esclarecer os leitores, sem tumultuar ou sensacionalizar;

4) procurar não tornar o artigo, material de propaganda pessoal, enfim, deve querer prestar informações úteis e não pensar em se promover. Este desvio do assunto principal serviu para esclarecer a nossa doutrina nessa conversa quinzenal, e para explicar a não exemplificação com o nome de produtos farmacêuticos,

Retornando ao fio da meada, digo-lhes que ninguém deve deixar de perguntar ao médico, por quanto tempo irá usar aquela prescrição e, inquirindo, dispor-se a obedecer a orientação recebida. Menciono outros equívocos, que encontro no dia a dia da clínica, alguns com resultados negativos importantes:

a) o doente não entende a prescrição e toma o medicamento de forma errada;

b) continua com a dose de ataque e não passa para a dose de manutenção, que é menor. Certas drogas são usadas, por exemplo, da seguinte forma: 1º ao 3º dia, 3 comprimidos por dia e do 4º dia em diante 1 comprimido por dia;

c) medicamentos, que eram para ser usados pela manhã, são tomados à noite, prejudicando sono, alimentação e tranquilidade do paciente, ou mesmo desencadeando efeitos colaterais graves, com a alteração do horário;

d) há remédios com várias dosagens. É necessário verificar bem a receita médica. Há, infelizmente, medicamentos com nomes parecidos, para finalidades diversas. E nem todos os balconistas procuram entender bem as receitas. Algumas, aliás, deveriam ser escritas também, com letra mais legível, diga-se. Se houver dúvida, procure o médico, para ser esclarecido, mas não tome a medicação, até aclarar o possível equívoco;

e) comunique-se com o médico-assistente, quando ocorrem outros sintomas, na vigência de um novo medicamento. Estes sintomas podem estar relacionados ao mesmo, pois cada organismo reage de uma forma, uns mais, outros menos, terceiros, com o desencadeamento de reações colaterais graves, imprevisíveis em algumas doenças. Atenção também para a via de administração (oral, retal, intramuscular etc.).

Portanto, aconselho que leiam, entendam as receitas, estejam alertas e se comuniquem com seus médicos.

O vizinho, a tia da nora que é enfermeira, às vezes, mesmo um outro médico, não poderão lhe esclarecer, com a segurança de quem conhece seus problemas de saúde e se dispôs a tratá-los, já tendo examinado e estudado a sua doença.

Termino, contando uma das ideias de Marlene Dietrich, apresentada em seu livro de memórias: "Os indivíduos escolhem os mecânicos de seus carros com mais cuidado, do que seus próprios médicos." Por achar certa a assertiva da famosa atriz, julgo que esta escolha não deve ser fortuita, merece ser técnica e interessada, para que, ao valorizar o médico, criem-se liames seguros de apreço e comunicação entre o binômio enfermo-médico, pois desta harmoniosa conjugação, às vezes, depende a nossa vida.


Pedro Franco é médico cardiologista
RJ
pdaf35@gmail.com

 

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Direção e Editoria
Irene Serra