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Atenção para as receitas médicas

Dr. Pedro Franco
Quanto tempo um paciente deve tomar um determinado medicamento? Mesmo quando
dizem o nome do produto, respondo que, sem examinar o doente, não sei. E só uma
pessoa saberá a resposta com rigorosidade — o médico-assistente. E encontramos
pacientes que repetem uma receita indefinidamente, ou, após dois ou três dias e
observando uma melhora clínica, sustam a medicação. Agiram por conta própria e
risco, nas ditas eventualidades. Fico tentado a exemplificar/
pormenorizadamente, com corticoides, antibióticos ou digitais, mas, pela
periculosidade gerada pela veiculação de assuntos médicos, em publicação não
especializada, deixo de citar remédios especificamente, valendo o assunto como
tese. Temo sempre interferir em um tratamento, bem orientado, embora
terapeuticamente excepcional, com a alusão ao emprego usual de determinado
fármaco. Quem escreve sobre assuntos médicos para o grande público, deve ter
alguns cuidados e finalidades, como: 1) não atrapalhar nenhum colega, que
esteja se conduzindo bem, perante um difícil caso ("La Medicine c'est comme
I'amour, ni jamais, ni toujours") e escolheu caminhos não trilhados
rotineiramente, pois a situação assim exigia;
2) valorizar, sempre, a posição
dos médicos assistentes, especialistas ou não; 3) esclarecer os leitores,
sem tumultuar ou sensacionalizar;
4) procurar não tornar o artigo, material
de propaganda pessoal, enfim, deve querer prestar informações úteis e não pensar
em se promover. Este desvio do assunto principal serviu para esclarecer a nossa
doutrina nessa conversa quinzenal, e para explicar a não exemplificação com o
nome de produtos farmacêuticos,
Retornando ao fio da meada, digo-lhes que
ninguém deve deixar de perguntar ao médico, por quanto tempo irá usar aquela
prescrição e, inquirindo, dispor-se a obedecer a orientação recebida. Menciono
outros equívocos, que encontro no dia a dia da clínica, alguns com resultados
negativos importantes:
a) o doente não entende a prescrição e toma o
medicamento de forma errada;
b) continua com a dose de ataque e não passa
para a dose de manutenção, que é menor. Certas drogas são usadas, por exemplo,
da seguinte forma: 1º ao 3º dia, 3 comprimidos por dia e do 4º dia em diante 1
comprimido por dia;
c) medicamentos, que eram para ser usados pela manhã, são
tomados à noite, prejudicando sono, alimentação e tranquilidade do paciente, ou
mesmo desencadeando efeitos colaterais graves, com a alteração do horário;
d)
há remédios com várias dosagens. É necessário verificar bem a receita médica.
Há, infelizmente, medicamentos com nomes parecidos, para finalidades diversas. E
nem todos os balconistas procuram entender bem as receitas. Algumas, aliás,
deveriam ser escritas também, com letra mais legível, diga-se. Se houver dúvida,
procure o médico, para ser esclarecido, mas não tome a medicação, até aclarar o
possível equívoco;
e) comunique-se com o médico-assistente, quando ocorrem
outros sintomas, na vigência de um novo medicamento. Estes sintomas podem estar
relacionados ao mesmo, pois cada organismo reage de uma forma, uns mais, outros
menos, terceiros, com o desencadeamento de reações colaterais graves,
imprevisíveis em algumas doenças. Atenção também para a via de administração
(oral, retal, intramuscular etc.).
Portanto, aconselho que leiam, entendam as
receitas, estejam alertas e se comuniquem com seus médicos.
O vizinho, a tia
da nora que é enfermeira, às vezes, mesmo um outro médico, não poderão lhe
esclarecer, com a segurança de quem conhece seus problemas de saúde e se dispôs
a tratá-los, já tendo examinado e estudado a sua doença.
Termino, contando
uma das ideias de Marlene Dietrich, apresentada em seu livro de memórias: "Os
indivíduos escolhem os mecânicos de seus carros com mais cuidado, do que seus
próprios médicos." Por achar certa a assertiva da famosa atriz, julgo que esta
escolha não deve ser fortuita, merece ser técnica e interessada, para que, ao
valorizar o médico, criem-se liames seguros de apreço e comunicação entre o
binômio enfermo-médico, pois desta harmoniosa conjugação, às vezes, depende a
nossa vida.
Pedro Franco é médico cardiologista
RJ pdaf35@gmail.com
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Direção e Editoria
Irene Serra
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