|
Comunicação oral e escrita

Dr. Pedro Franco
Participei do XXXII Congresso Brasileiro de Cardiologia, em São Paulo, presidido
e muito bem organizado pelo Prof. E. Jesus Zerbini e, após assistir a uma
excelente palestra do Dr. R. C. Tarazi sobre os mecanismos de regulação da
pressão arterial, fiquei pensando como a comunicação oral, sob determinadas
circunstâncias, perde para a comunicação escrita. Por mais que se tente entender
o que o expositor diz, apoiado em dispositivos às vezes complicados, se perde
muito, ainda mais quando o assunto é inédito e complexo. E acaba-se de ouvir a
conferência, desejando que algum laboratório tenha a boa ideia de apoiar a
propaganda de um medicamento nos trabalhos apresentados pelo conferencista;
pois, caso contrário, corremos (todos que o ouviram) o risco de ficar sem
conhecer bem aquelas novas concepções, que podem demorar até cinco anos a ganhar
os livros de texto, ou mesmo nunca mais se reproduzirem.
A esta altura o
leitor estará pensando que escrevi em lugar errado e que bem melhor seria
enviar, em forma de carta, uma sugestão à Presidência dos futuros Congressos de
Cardiologia, pedindo-lhe para imprimirem as principais conferências e as
distribuírem ao se findarem os Congressos. Mas lhes afianço que não me enganei
de local, pois um dos fatos mais importantes da vida moderna é a extrapolação de
conceitos. Por exemplo, apanhar princípios básicos de economia e trazê-los, após
as devidas adaptações, para a gerência das próprias e minguadas finanças; ou se
fundamentar na emissão de ultrassons (radar) e criar a ecocardiografia e as
citações seriam infindáveis, abrangendo todos os campos do conhecimento. Eis que
a minha digressão, após a conferência brilhante do Dr. R. C. Tarazi, tem
correlações com a clínica, com os pacientes: é comum um médico, ao final da
consulta, fazer uma porção de recomendações, oralmente...
E o paciente,
principalmente se está gravemente enfermo, ou se é idoso, esquece-se ou não
apreende bem os conselhos técnicos, ou os interpreta ao seu bel-prazer e ficam
só, do tratamento, as pílulas, que perante a terapêutica moderna, representam
uma parte, em determinadas ocasiões, um complemento, pois o cerne do tratamento
será a dieta, a modificação dos hábitos de vida, sustação do fumo, a troca de
diversão, a modernização do trabalho, para hipóteses e exemplos.
Portanto:
1) Creio que os médicos devem não ter pena de usar a caneta, fazendo,
obrigatoriamente, as recomendações por escrito, em letra bem legível. Sob certas
condições clínicas é admissível ter um impresso, onde o médico fará as
alterações referentes ao caso. Assim, procura economizar tempo e adestrará o
doente. 2) O enfermo e seus familiares devem se educar em ler e reler as
instruções médicas (nem coloquei receita, de propósito). E procurar as entender.
Se qualquer dúvida ficar em relação às doses, dieta ou recomendações, voltem a
se comunicar com o médico, para dirimirem as dúvidas, por mais tolas que
pareçam. Com jeito, peçam aos médicos que escrevam as suas recomendações, pois
assim as podem seguir com mais rigor e interesse, na certeza de que a
comunicação escrita é muito mais marcante, sob o ponto de vista de compreensão e
memorização, que a oral, mesmo na clínica do dia a dia.
Pedro Franco é médico cardiologista
RJ pdaf35@gmail.com
__________________________
Direção e Editoria
Irene Serra
|