01/10/2022
Ano 25
Semana 1.290

 




Arquivo

Conversa

com o paciente



 

 


 

Comunicação oral e escrita


Dr. Pedro Franco



Participei do XXXII Congresso Brasileiro de Cardiologia, em São Paulo, presidido e muito bem organizado pelo Prof. E. Jesus Zerbini e, após assistir a uma excelente palestra do Dr. R. C. Tarazi sobre os mecanismos de regulação da pressão arterial, fiquei pensando como a comunicação oral, sob determinadas circunstâncias, perde para a comunicação escrita. Por mais que se tente entender o que o expositor diz, apoiado em dispositivos às vezes complicados, se perde muito, ainda mais quando o assunto é inédito e complexo. E acaba-se de ouvir a conferência, desejando que algum laboratório tenha a boa ideia de apoiar a propaganda de um medicamento nos trabalhos apresentados pelo conferencista; pois, caso contrário, corremos (todos que o ouviram) o risco de ficar sem conhecer bem aquelas novas concepções, que podem demorar até cinco anos a ganhar os livros de texto, ou mesmo nunca mais se reproduzirem.

A esta altura o leitor estará pensando que escrevi em lugar errado e que bem melhor seria enviar, em forma de carta, uma sugestão à Presidência dos futuros Congressos de Cardiologia, pedindo-lhe para imprimirem as principais conferências e as distribuírem ao se findarem os Congressos. Mas lhes afianço que não me enganei de local, pois um dos fatos mais importantes da vida moderna é a extrapolação de conceitos. Por exemplo, apanhar princípios básicos de economia e trazê-los, após as devidas adaptações, para a gerência das próprias e minguadas finanças; ou se fundamentar na emissão de ultrassons (radar) e criar a ecocardiografia e as citações seriam infindáveis, abrangendo todos os campos do conhecimento. Eis que a minha digressão, após a conferência brilhante do Dr. R. C. Tarazi, tem correlações com a clínica, com os pacientes: é comum um médico, ao final da consulta, fazer uma porção de recomendações, oralmente...

E o paciente, principalmente se está gravemente enfermo, ou se é idoso, esquece-se ou não apreende bem os conselhos técnicos, ou os interpreta ao seu bel-prazer e ficam só, do tratamento, as pílulas, que perante a terapêutica moderna, representam uma parte, em determinadas ocasiões, um complemento, pois o cerne do tratamento será a dieta, a modificação dos hábitos de vida, sustação do fumo, a troca de diversão, a modernização do trabalho, para hipóteses e exemplos.

Portanto:

1) Creio que os médicos devem não ter pena de usar a caneta, fazendo, obrigatoriamente, as recomendações por escrito, em letra bem legível. Sob certas condições clínicas é admissível ter um impresso, onde o médico fará as alterações referentes ao caso. Assim, procura economizar tempo e adestrará o doente.
2) O enfermo e seus familiares devem se educar em ler e reler as instruções médicas (nem coloquei receita, de propósito). E procurar as entender. Se qualquer dúvida ficar em relação às doses, dieta ou recomendações, voltem a se comunicar com o médico, para dirimirem as dúvidas, por mais tolas que pareçam. Com jeito, peçam aos médicos que escrevam as suas recomendações, pois assim as podem seguir com mais rigor e interesse, na certeza de que a comunicação escrita é muito mais marcante, sob o ponto de vista de compreensão e memorização, que a oral, mesmo na clínica do dia a dia.


Pedro Franco é médico cardiologista
RJ
pdaf35@gmail.com

 

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Direção e Editoria
Irene Serra