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Persuasão versus fumo

Dr. Pedro Franco
Os médicos,
seja qual for a classe socioeconômica de sua clientela, tem um problema comum: a
necessidade de persuadirem seus clientes a seguirem determinadas condutas. Neste
aspecto o tabagismo ganha um relevo primordial. O médico do pobre, o do rico, o
da classe média, o do operário, o do burguês, do intelectual, todos enfim
percebem, perante determinados doentes, que seus remédios, sua sofisticada
aparelhagem, ou sua semiologia-experiência serão ineficazes, se o seu poder de
persuasão falhar. E, seja qual for o método empregado, a zanga, a peroração, a
explicação, a intimidação, a palestra, todos os meios podem fracassar e o
doente, fumando e fumando, caminha para a morte, às vezes uma morte estúpida,
precoce, sofrida, triste, seja pelo enfisema pulmonar — doença pulmonar
obstrutiva crônica "cor pulmonale" crônico, ou pelo câncer pulmonar, ou pelas
arterites periféricas, ou pelo enfarto do miocárdio, ou pela arteriosclerose,
ou, e ficaria colocando uma lista de quando a meta é chamar a atenção para o
descalabro (quase ousei dizer burrice! ) que é fumar.
Por que se fuma?
Por muitos motivos, já bem conhecidos e estudados, principalmente pelas
companhias de cigarro. Quem tem os mais bonitos anúncios da TV? Subrepticiamente
o indivíduo é induzido a fumar e até as mulheres, como afirmação feminina, com
as desculpas ao Women's lib)), passaram a fumar mais, apesar de apresentarem,
sob o ponto de vista anatômico, um aparelho respiratório mais débil.
O
médico se sente impotente e inútil perante a teimosia daquele enfermo, que não
parece ainda enfermo, mas que inexoravelmente chegará lá. Ausculto roncos e
sibilos, pela bronquite tabágica, ocorre a tosse matinal, algumas ondas do
eletrocardiograma já estão alteradas. São 20 ou 30 cigarros por dia e "vou
diminuir", “estou fazendo força", "parei e recomecei" e os meses passam, a
doença evolui e continuam os conselhos, as "broncas", as explicações, às vezes o
"pare de fumar ou troque de médico" e nada adianta, até que o irremediável
ocorre: a doença ganhou.
E eu, pensa o médico, olhando uma radiografia,
avisei tanto! Por que não tenho um dom de persuasão maior? Divido a culpa com a
sociedade, que deixa venderem cigarros, com a desculpa dos impostos. O que os
Governos perdem e gastam com as doenças provocadas pelo fumo nestas pessoas? Mas
isto é uma outra história. Triste e mundial história! Alguém dirá: Este hoje
estava sem assunto e recorreu ao fumo. Talvez um tabagista inveterado pense
assim e queira fugir do assunto. Não, havia outros temas para a "Conversa com o
paciente", muitos outros, porém escolhi este porque é dos mais importantes, como
problema de saúde pública. E, como todo médico, também estou engajado,
permanentemente, na campanha antifumo, encampada até pela Associação Médica
Brasileira, dizendo e onde posso, que precisamos parar de fumar, para viver
melhor.
Obs: Cigarros eletrônicos não são soluções. Representam de
fato outro problema para a saúde. Merecem ser abolidos.
Pedro Franco é médico cardiologista
RJ pdaf35@gmail.com
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Direção e Editoria
Irene Serra
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