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Deontologia médica

Pedro Franco
Existe em Medicina um setor de difícil
entendimento para alguns leigos e a incompreensão existe porque o assunto não se
prende à parte científica da matéria e sim às relações entre os próprios médicos
e entre médicos e doentes, relacionando ainda obrigações morais e legais.
Refiro-me à Deontologia Médica, regida por um Código de Ética Médica. Sempre
que os pacientes, ou seus familiares, se reportam a asta coleção de normas,
fazem-no depreciativamente, pois encaram os citados princípios apenas como uma
proteção à classe médica, contrariando sempre os sagrados direitos dos enfermos,
resguardando apenas os dos médicos, sem se incomodarem com a verdadeira
finalidade da Medicina — o doente. E justamente a Ética Médica tem por objetivo
salvaguardar a Medicina, para que ela em toda a sua pujança, e com todos seus
recursos, possa lutar por restabelecer a saúde, mitigar padecimentos, ou
prevenir moléstias. E os poucos facultativos, transfugas das leis de conduta
profissional, põem em risco não só a vida do doente, mas a verdadeira fé no da
Ciência, que os pacientes necessitam possuir. Como poder admitir que os
seguidores de uma mesma carreira se acusem indiscriminadamente de incompetência
em tão difícil ofício, ou anunciem curas sabidamente impossíveis, enfim, não
agindo com o decoro, que o mister exige?
Poucos assuntos se tornam tão
difíceis nos consultórios como os problemas deontológicos, quer pela
desobediência, rara e eventual, de uns poucos facultativos, ávidos de
conseguirem clientela, não evitando para isto expedientes menos aconselháveis,
quer pelo total desconhecimento, por parte dos enfermos e familiares, da conduta
que deve ser obedecida pela classe. Há que treinar a autocrítica e domínio, para
evitar sempre comentários levianos, que viriam conspurcar o segredo médico.
Quantas intervenções indevidas, ou inadequadas, por falta e esclarecimentos, nos
propõem os donos dos doentes, principalmente nos casos desesperadores. Por
exemplo, solicitam que um médico policie o tratamento prescrito por um outro,
sem que o assistente tome conhecimento do fato, como se isto fosse possível, ou
contribuísse para o restabelecimento do paciente! O próprio Código de Ética
encontra, para esta e outras situações, uma solução que permite o diálogo entre
os médicos, franco e saudável, em conferência médica, permitindo encontrar,
entre vários caminhos, o mais adaptável ao caso. Esta forma de agir evita
expedientes escusos, que diminuiriam ambos os profissionais, perante a família
aflita, para não nos reportarmos aos óbices decorrentes de orientações quiçá
antagônicas e conflitantes. Caso os colegas acedessem aos desígnios dos parentes
conturbados, limitaram os burrinhos de anedota, que amarrados pela mesma corda,
tentavam ir comer em montes de feno opostos, sem conseguirem.
A atriz
Marlene Dietrich afirmou, em suas memórias, acertadamente, que as pessoas
escolhem os mecânicos de automóveis com mais cuidado do que seus médicos. E
pior, constato, famílias inteiras vivem sem um médico assistente. Aquela escolha
sem maiores pesquisas ou interesse, se torna campo fértil para futuras
desconfianças nas horas graves das doenças. E, problemas éticos e incertezas não
existiriam, se a se solidificado entre médico e doente, no correr das consultas
rotineiras, sempre úteis para a profilaxia das enfermidades.
Finalizamos,
lembrando que, se o Código de Ética deve ser obedecido fielmente pelos médicos,
os leigos podem ter absoluta certeza de que este Código não é um manto destinado
a servir de desculpa para certos atos e sim um conjunto de regras, como é a
Moral para a Sociedade, que visa amenizar o contato entre os interessados e
sobretudo preservar, em todos as sentidos, esta Ciência-Arte, árdua e sempre em
evolução, a Medicina, tão importante, quão incompreendida.
Pedro Franco é médico cardiologista
RJ pdaf35@gmail.com
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Direção e Editoria
Irene Serra
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