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A “sinistrose”, os pacientes e a Covid
 
Pedro Franco
Digamos que a
"sinistrose" é o arauto boateiro do pessimismo, ou a deterioração do otimismo e
da esperança.
Posso constatar, como médico, que a "sinistrose" se abateu
sobre alguns clientes. Só leem e veem o triste, o violento, o ruim. E como há
muito de péssimo para ler e saber, ficam cada vez mais medrosos e temerosos e
passam a se nutrir do medo e do terror, não vivendo então, e tendo agravados
seus problemas físicos. E são palpitações, anginas, gastrites, crises
hipertensivas, ansiedades, insônias, pesadelos, dispneias etc. Não querem sair
ou andar, não se divertem e murcham.
Ninguém vai aconselhar a bancarem
avestruzes; a enterrarem cabeça na areia, para não verem o que ocorre, o que de
mal ocorre. Nem há areia para tanto. Daí a só lerem sobre violência, inflação,
ou doença social vai uma distância muito grande. O masoquismo não me parece
aconselhável, principalmente para os enfermos. Exemplifico: tenho pacientes,
principalmente senhoras, que moram sós, hábito que não aconselho, mas que, às
vezes, é inevitável. Temem ser assaltadas e se previnem com trancas alarmes,
visores, etc. Até aí tudo bem. Rezam muito. Melhor ainda. Passam a só ler,
ouvir, ver tudo aquilo que se relaciona com crimes ou Covid. Correm ávidas às
páginas dos jornais, onde se descrevem os crimes; nas casas e nas ruas, procuram
os telejornais e os programas de rádio onde a matéria é amplamente detalhada e,
principalmente, trocam, como assunto básico, único e principal com as
companheiras de solidão, as informações colhidas em rádios, jornais, televisões,
ou mesmo na vizinhança.
Antigamente vi tal fenômeno ocorrer em relação às
doenças, agora ocorrem e se nutrem da violência, da "sinistrose". E assim não há
saúde que aguente! Colocadas as trancas, não leiam sobre crimes e desgraças,
guerras e roubos. Procurem a sessão de cinema, teatro, quebra-cabeças,
literatura, música, esportes. Vejam novelas e séries amenas, ouçam música,
leiam, tricotem, trabalhem para a caridade, preencham seu tempo com otimismo ou,
pelo menos, não façam do ruim o seu único passatempo, pois o violento e a Covid
não são passatempo, são mata tempo, ou mata vida, creiam.
E mais cuidado:
vem eleição e suas fake news.
Pedro Franco é médico cardiologista
RJ pdaf35@gmail.com
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Direção e Editoria
Irene Serra
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