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A saúde e o dinheiro

Pedro Franco
- É melhor chorar em um Jaguar, do que em
um bonde. (Françoise Sagan). - A pobreza não tem dignidade. (Charles
Chaplin).
A escritora colocou a frase na boca de um de seus personagens,
o genial cineasta falava da internação final de sua mãe. Aparentemente os dois
estariam cobertos de razão, se olharmos os pensamentos sob uma ótica
eminentemente materialista. Há que reconhecer também que, em determinadas
situações, o amparo financeiro minimiza os problemas. A hora das enfermidades
graves o exemplo mais palpável.
Mas qual a relação entre a saúde
e o dinheiro? A que conclusões quer chegar o "Assuntos Assistenciais" de hoje?
Como doutrina de vida, nossa conclusão inteiramente diferente à induzida pelo
introito do artigo. Vejo, no dia a dia do consultório, que a excessiva
valorização dos bens materiais, o esforço levado às raias da exaustão pelo
sucesso financeiro, fazem mal à saúde, desgastam o indivíduo. Depois de toda
uma vida norteada em determinado sentido financeiro, não há como buscar outros
valores mais altos, éticos e espirituais. Foi a família que perdeu o seu chefe,
para ter o homem que lhe ganha o dinheiro. Perdem os valores morais pela
posição, pelo "status". Anoto ainda que determinadas mães de família esqueceram
as suas primordiais funções no lar (não estou falando em permanecer o dia
inteiro no lar) e passaram a viver, exclusivamente, para as suas profissões.
E com esta distorção, acabam por perder o equilíbrio interior e, por fim, a
saúde.
Todo o bem material tem um preço. É necessário se saber se o que é
dado em pagamento, em outros valores, é compatível com o que se adquire. Não
temos uma saúde física e uma saúde mental, como compartimentos estanques. Já nos
basta a soma de agressões externas, que recebemos pela vida afora. É necessário
saber se o prego do Jaguar, apresentado simbolicamente pela escritora, não
limpou as nossas reservas éticas, morais e físicas.
Em contrapartida, estou
inteiramente de acordo com a ideia de que certo grau de ambição é benéfica ao
indivíduo. Não podemos deixar que o meio se transforme em meta e o preço
pago pelo dinheiro venha a ser o caminho da infelicidade, pela
destruição da saúde psicossomática.
Pedro Franco é médico cardiologista
RJ
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Direção e Editoria
IRENE SERRA
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