Ângelo Pignataro
O calor vem chegando e já se estabeleceu em
algumas regiões brasileiras. Nessas épocas nada melhor que se alimentar com
pratos leves e refrescantes. E que tal uma sopa? Sopa??? Calma. Temos sopas
frias também, como a vichiçoise, o borsht e o gazpacho, ou gaspacho, prato
típico espanhol.
A receita apresentada é tradução livre de texto do livro
“La Cocina Española Antigua y Moderna”, da Condessa de Pardo Bazán, um
“recuerdo” da visita ao país no último mês do século passado:
“Coloque em
um pilão sal, um pimentão verde, dois bons tomates (o refinamento consiste em
retirar as sementes) e enquanto ao alho basta e sobra esfregar um dente nas
paredes do pilão. Estando tudo bem socado juntar um pedaço grande de pão molhado
com água e espremido, continue socando até formar uma pasta e junte aos poucos
meia xícara de azeite extravirgem; na sopeira coloque água e vinagre e a pasta
de tomates peneirada. Ao servir, pode-se colocar pequenos pedaços de pão. Esta
preparação não leva mais que vinte minutos por mais perfeccionista seja o
cozinheiro.” D. Emília Pardo Bazan.
Sejamos práticos substituindo o pilão
por um liquidificador e quanto à medida de água e vinagre vai depender do seu
gosto, sopa mais densa ou mais rala. Pessoalmente prefiro um tanto densa e
gelada, com croutons em vez dos pequenos pedaços de pão como reza a receita e
ainda cubinhos de pepino, sem a casca e as sementes.
A sopa é uma das
preparações mais antigas e universais, milhares de variações são encontradas até
numa mesma região. São completas e medicinais segundo nossas avós.
A
palavra sopa tem a sua origem semântica no sânscrito sû = bem e pô = alimentar,
ou seja, sopa significa “bem alimentar”. Outras vertentes apontam que a palavra,
criada na idade média, deriva do germânico arcaico suppa “pedaço de pão embebido
em um líquido”. O dicionário Aurélio assume essa segunda explicação e define
sopa como “caldo com carne, legumes, massas ou outra substância sólida, servido
normalmente como primeiro prato do jantar”.
Então, segundo tal
dicionário, no interior de Minas suppa seria o nosso “pão moiado” que é quando o
freguês, por preferência ou por não ter no momento dinheiro suficiente para o
sanduiche de pão com carne cozida, se contenta com pão embebido no molho da
carne. Já ouvi esse diálogo engraçado num balcão de bar:
- Tem pão
moiado?
- Antão racha e brea.
Ângelo Piganataro, designer e especializado em Museologia,
é um dos
fundadores do Festival Gastronômico de Tiradentes.